Para quem não conhece, Alberto da Costa e Silva é um diplomata que passou anos na África, se apaixonou pelo continente e virou um tipo fodão nesse assunto. Já escreveu vários livros a respeito da história da África, é chamado para palestras, entrevistas, e tudo o que um intelectual famoso tem direito. "Um rio chamado Atlântico - A África no Brasil e o Brasil na África", é uma coletânea de artigos do embaixador que tratam desta relação estreita promovida pela escravidão. Em diversas passagens, o leitor terá uma idéia de como as coisas de lá influenciaram as coisas daqui (muito mais do que se imagina) e as daqui influenciaram as coisas lá (para quem não sabe, tem comunidades de descendentes de brasileiros com forte herança cultural lá até hoje). Além disso, podemos perceber também que acontecimentos na África tiveram mais influência aqui do que nos contam nos livros didáticos, e vice-versa.
Por alternar artigos ótimos, regulares e péssimos, o livro não passa de mediano, não sendo interessante para pessoas que não tem afinidade com o tema. Para um leigo em história, poucos artigos servem como uma leitura frutífera; para profissionais ou pessoas que tem uma noção sobre o assunto, algumas passagens podem acrescentar na formação pessoal, mas com algumas eu particularmente não concordei (o homem afirma orgulhosamente que o Brasil não aboliu o tráfico de escravos por pressão da Inglaterra, mas vai lá, o texto é dos anos 60, não podemos crucificar ninguém pelas influências e limitações da época. Em 40 anos dá pra alguém se redimir de uma merda dessas...). Uma coisa que me surpreendeu foi o fato de um reino africano ter sido o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil, tendo em vista que todos os livros didáticos de História que eu conheço (e não são poucos) afirmam que a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil foram os Estados Unidos. Seria a tradição ocidental de admitir a existência de países apenas nos moldes dos Estados modernos? Falsificação racista da história? Só um estudo mais profundo pode dizer, e com certeza não vou ser eu quem vai fazer isso...
Por outro lado, muitos textos são repetitivos, tendo em vista que o autor não fez nenhuma edição, o que faz com que o leitor entre em contato repetidamente com idéias já esplanadas. E alguns textos são enfadonhos e desnecessários, parecendo que estão lá pra encher linguiça. Tem até um que é uma narrativa de uma visita que o autor fez a um museu em Lagos, muito chato. A impressão que me deu foi que alguém viu o material espalhado e achou interessante compilá-lo, e o autor disse "tá legal, faz o que você quiser".
Se você é profissional da área ou um tipo ativista, não vai lhe fazer mal dar uma lidinha nisso aqui. Mas caso se classifique de qualquer outra forma, recomendo que substitua esta leitura por um Hemingway, um Huxley, um Zola...
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 287
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *
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