domingo, 30 de outubro de 2011

A Náusea - Jean-Paul Sartre

Recentemente escrevi uma resenha sobre um livro de Sartre chamado O Existencialismo é um Humanismo, um tipo de cartilha didática na qual o filósofo explica os principais pontos de suas difíceis ideias para o público leigo. Após essa preparação, me senti um pouco mais seguro para encarar um de seus principais trabalhos que eu ainda não havia lido, A Náusea, escrito em 1938, antes do livro que apresentou ao mundo seu pensamento existencialista, O Ser e o Nada. 

Um romance ou um livro de filosofia? Ambos. Em A Náusea, Sartre não traça um roteiro muito elaborado para narrar uma história, mas utiliza um personagem para, através de um diário, apresentar as ideias existencialistas de forma literária. Antoine Roquentin encontra-se em Bouville, uma cidade portuária fictícia na França, onde faz uma pesquisa na biblioteca local acerca da vida do Marquês de Rollebon, personagem que vivera no século XVIII. Durante esse tempo, Antoine escreve em seu diário suas impressões a respeito do mundo, melhor dizendo, da existência, e junto a esses pensamentos, a Náusea, um sentimento que, com outros nomes, é tratado em trabalhos existencialistas posteriores - um sentimento de angústia ou ansiedade em relação à liberdade a que o ser humano é condenado.

A Náusea é um livro tenso, perturbador. Pelo menos foi assim que me senti ao ler esse livro: angustiado, da mesma forma que o protagonista. Antoine Roquentin procura entender o porquê daquele sentimento que permeia seu cotidiano, seja em relação ao amor, sexo, música ou à simples observação de objetos inanimados, e a escrita de Sartre é tão engenhosa que o sentimento de perturbação é capaz de passar para o leitor. O pessimismo de Roquentin está presente em quase todas as páginas, tendo como contraponto o personagem chamado Autodidata, um homem que acredita no progresso da humanidade e se dedica a apreender todo o conhecimento através da leitura de livros sobre os mais variados assuntos na biblioteca local, em ordem alfabética por autor - um humanista, contrastando com o existencialista. 

Considero A Náusea um livro muito bem escrito, e muito interessante no sentido filosófico, mas admito que essa leitura me deixou para baixo, e por isso até demorei mais do que o normal, não conseguia ler por muito tempo, e até pensei em largar no meio. É um livro que eu tinha que ler, conferir esse ícone da literatura do século XX que tanto aprecio, entrar de outra forma em contato com o intrigante existencialismo... mas que doeu, doeu.

Editora: Nova Fronteira
Páginas: 226
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *