segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Guia do Mochileiro das Galáxias - Adam Douglas


Já se imaginou como o último ser humano vivo no universo inteiro, viajando pela galáxia com um amigo que você acabara de descobrir que, na verdade, é um extraterrestre? Este é o divertido pano de fundo para “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, clássico absoluto da ficção científica de Adam Douglas. Olhando assim, percebe-se um pressuposto fantástico para uma comédia surrealista, mas infelizmente o livro rende muito menos do que se pode esperar.


De tanto ouvir dizer bem desse livro, resolvi conhecê-lo neste ano de leitura extrema, e tamanha expectativa potencializou minha decepção. Não que seja um livro ruim, mas com a repercussão que causa até hoje e seu teaser intrigante, não dá para esperar o que ele realmente é: um livro razoável, com algumas passagens muito engraçadas e inteligentes, mas em sua maior parte apresentam-se piadas fracas e metáforas óbvias para fazer críticas à mediocridade humana.


“O Guia do Mochileiro das Galáxias” conta a história de Artur Dent, um homem comum que, por intermédio de um extraterrestre disfarçado de humano, descobre que o planeta Terra deixará de existir em alguns minutos. A sorte dele é que seu amigo e.t. está fazendo uma pesquisa de campo para o tal guia, e antes que o planeta vire cinzas ele descola uma caroninha e leva Dent junto. A partir de então, dá pra imaginar que vem muita aventura e confusão pela frente, mas o autor exagera um pouco e inventa situações muitas vezes absurdas até para uma obra de ficção científica. Algumas passagens são realmente engraçadas, alguns personagens bem trabalhados (os robôs da nave são hilários) e a explicação sobre a criação de nosso planeta é bacana, mas infelizmente a graça pára por aí, pois a maior parte não cola. Uma pena.


Existem outros quatro volumes da série. De repente, se eu encontrar num sebo ou biblioteca eu pego para ler no futuro, mas acho que com R$ 20,00 (preço nas livrarias) dá pra conseguir coisa melhor.

Editora: Sextante
Páginas: 204
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

Livros Digitais

sábado, 20 de setembro de 2008

Eric Clapton: A Autobiografia


Eric Clapton, guitarrista com status de divindade, passou décadas se drogando, bebendo, transando com as mais lindas garotas, se divertindo pacas ao redor do mundo e fazendo muitas merdas com a própria vida, mas desde a década de 1990 ele diz que parou com quase tudo isso, montou uma família e finalmente lançou um livro contando como tudo isso aconteceu. Definitivamente, o rock’n’roll está morto e enterrado, mas como eu gosto muito de história, decidi dar uma conferida em “Eric Clapton – a autobiografia”.

Apesar de o rock estar nas minhas entranhas desde que saí da infância, nunca fui muito fã de Clapton, que leva sua carreira muito para o lado do blues, estilo que não sou aficionado. É só mais um músico que ouço sem fixação, mas sem desconsiderar sua genialidade na guitarra. O que me levou a ler este livro foi o simples fato do cara ter vivido os anos mais loucos do rock’n’roll – estilo musical que morreu em 1996, com o fim dos Ramones, última banda a encarnar o espírito do rock.

Além de Clapton contar as maiores loucuras, irresponsabilidades e escrotices que um astro do rock podia promover, através das páginas de sua autobiografia são apresentadas situações curiosíssimas com outros músicos que cruzaram sua carreira, como Rolling Stones, Beatles, Bob Dylan, Jimi Hendrix e sobretudo George Harrison, grande amigo de Clapton e meu beatle predileto. Seria um livro excelente se as memórias terminassem na década de 1980, pois nos últimos capítulos o guitarrista fala sobre coisas sem graça como sua vida em família e sua abstenção alcoólica.

Adoro biografias, para mim são formas diferentes de se contar a história do que quer que seja – nesse caso, a história do rock’n’roll. Não desqualifico os livros de memórias pessoais como este, mas com certeza neste tipo de biografia perde-se muito, já que é uma visão pessoal, parcial e comprometida com as pessoas próximas do autor. Percebe-se que a cada capítulo o livro fica menos intenso e com menos revelações chocantes, pois passa a falar cada vez mais de pessoas vivas e que convivem com o autor ainda hoje. Por exemplo, até o momento em que ele conhece sua atual esposa, não há um capítulo do livro (exceto o primeiro, quando ele ainda é criança) que Clapton não fale de mulheres que ele pegou e puladas de cerca em suas inúmeras turnês, mas depois de seu casamento não se fala mais nesse assunto. São coisas que é melhor evitar para não serem necessárias desculpas esfarrapadas depois.

Mais do que simples memórias, me pareceu que a autobiografia de Eric Clapton teve um sentido de reconhecer o quão babaca ele foi com diversas pessoas em sua vida e tentar se desculpar e se mostrar arrependido por muitas vezes ter ferido ou tratado os outros como lixo. Clapton é um dos maiores guitarristas de todos os tempos, não um escritor de verdade, por isso seu estilo é fraco, levado pela linguagem, com vícios e gírias, especialmente um “na real” que se repete constantemente. A tradução também não ajuda com a falta de virgulas, a troca de “estada” por “estadia” durante todo o livro e um impressionante “estensos” na página 110 que passou batido pela revisão. Não se espera de um livro como esse uma obra-prima da alta literatura, mas sim histórias fascinantes sobre vários deuses sagrados do mundo do rock. Diversão garantida para quem curte.

Editora: Planeta
Páginas: 399
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

As crônicas saxônicas vol.1 e 2 - Bernard Cornwell


Estes são os livros que mais me desapontaram neste ano. Não os piores, mas os que eu mais depositei esperanças de uma boa leitura e não tive uma resposta satisfatória. “As crônicas saxônicas” partem de dois pressupostos fortíssimos: (1) foram escritas por Bernard Cornwell, autor das “Crônicas de Artur”, um de meus livros prediletos, e (2) contam histórias de vikings, um dos povos que mais me fascinam. Depois das “Crônicas de Artur”, li “O tigre de Sharpe”, que apesar de divertido não achei lá essas coisas, mas pensei que fosse uma exceção na sua obra. Mas depois de ler os dois primeiros volumes das “Crônicas saxônicas” começo a pensar que na verdade Bernard Cornwell é daqueles autores de um livro só.

Logo no início do livro, percebi uma coisa que já tinha ficado meio evidente em “O tigre de Sharpe”, que é a repetição de um modelo que deu certo na criação dos personagens de seus livros, mas entre as crônicas saxônicas e as de Artur as semelhanças entre os personagens são tantas que fica parecendo que Uthred, o protagonista das crônicas saxônicas, é a reencarnação de Derfel, o herói das crônicas de Artur. As mais evidentes estão listadas a seguir:

- O personagem principal tem uma namoradinha abusada, sádica e totalmente anti-cristã.
- A mulher do chefe é escrota e não gosta do protagonista.
- O personagem principal zomba do cristianismo, mas no futuro se converte, apesar de continuar acreditando na religião anterior.
- O personagem principal sabe (ou aprende a) ler, e nisso inclui-se também o livro de Sharpe.

As semelhanças são tão grandes que chega ao cúmulo de o último capítulo de ambos os livros terem o mesmo título (“A parede de escudos”). Um pouquinho mais de criatividade não faria mal a ninguém, sobretudo aos seus leitores!

Além dessas identificações desagradáveis, o estilo de Bernard Cornwell, que eu tanto apreciei nas crônicas de Artur, começa a ficar enjoativo para mim. Se não bastassem todas as semelhanças descritas acima, o estilo marcado faz parecer ainda mais que ambos os livros têm o mesmo narrador. Não sei se é problema da tradução, pois li um capítulo de outro livro seu (“Gallows Thief”) no original em inglês, e gostei muito. Posso até tentar daqui pra frente ler só o original, mas não sei, tem algo que já está saturado em sua escrita, como uma mania meio irritante de fechar quase todos os capítulos com uma frase solta do parágrafo. Outra furada que percebi na leitura das crônicas saxônicas foi a narração em primeira pessoa durante a infância do herói, pois ele pensa, age e fala como um adulto, o que fica bizarro e patético.

As “Crônicas saxônicas” contam a saga de Uthred, um menino saxão que vivia num forte na Inglaterra até a chegada dos invasores vikings, que matam sua família e o raptam e criam com seus modos de vida. Uthred então se transforma num autêntico viking, mas já adulto, por ironia do destino, passa novamente para o lado dos saxões, habitantes estabelecidos há alguns séculos na ilha, e tem que lutar contra seus antigos companheiros e sua religião em favor do rei Alfredo e do cristianismo. O que mais me interessou nesta leitura foi o simples fato de abordar a história dos vikings. Isso por si só já me encantou, apesar das limitações já explanadas, pois eu realmente amo os vikings, queria ter nascido um deles para simplesmente invadir a terra dos outros, roubar sua comida, queimar suas casas, estuprar suas mulheres, matar, decapitar, eviscerar, mutilar, e morrer lutando, e depois de tudo isso ser recompensado indo para o Valhalla (como se fosse o paraíso) e passar o resto dos dias lutando e pegando todas as mulheres lá até o Ragnarok (a batalha final dos deuses, como se fosse o Juízo Final). A única coisa que nunca entendi nas lendas vikings é o lance das mulheres, já que elas não entravam no Valhalla. Mas deixa pra lá, a lenda é agradável dessa forma, não quero nem imaginar em chegar lá e me deparar com um monte de cuecas...

Até o momento foram lançados quatro volumes da série, mas depois da leitura dos dois primeiros perdi a vontade de continuar. O primeiro é legal, e a história em si, com descrições de batalhas e estratégias de guerra, impulsionou minha leitura, apesar da decepção inicial com a falta de criatividade na construção dos personagens. Já o segundo começa muito melhor que o primeiro, me fazendo achar que a história enfim andaria num ritmo melhor. Até a metade do livro fiquei com os olhos grudados e ansioso para ver o desenrolar das coisas, mas então começou o momento “O império contra-ataca” da trama, ou seja, quando o inimigo vira o jogo e quase derrota o herói, e até o final do volume ficou numa lengalenga que fez me arrastar na leitura e perder a vontade de continuar até o final da saga. De repente eu até termino daqui a alguns meses (já comprei os outros dois mesmo...), mas agora perdi o interesse completamente, muito pela qualidade regular do livro, mas acho que sobretudo porque após as fantásticas “Crônicas de Artur” esperava muito mais de Bernard Cornwell, e esta decepção me deixou com um pouco de raiva.

Para curtir as histórias e lendas dos guerreiros vikings, mais instrutivo e encantador do que ler a “Crônicas saxônicas” é ouvir a música “Cold Wind to Valhalla”, do Jethro Tull, ou ler os quadrinhos do Thor da década de 80.

Editora: Record
Páginas: 364 (vol.1) e 387 (vol.2)
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

domingo, 7 de setembro de 2008

Queimado queimado, mas agora nosso! - Rosely Forganes


Acho que o mercado de mapas políticos deve ser lucrativo. Ano sim, outro também, surgem novos países para serem incorporados nos atlas, e ficamos sem saber absolutamente nada sobre estes caçulas, isso quando chegamos a reconhecer sua existência. Um desses novatos é o Timor Leste, que só não é o debutante máximo porque ano passado surgiu mais alguma coisa lá pelos Bálcãs (que eu também só fiquei sabendo porque a seleção da Sérvia foi desmembrada).

No caso do Timor, ainda teve alguma repercussão na mídia brasileira, por causa da proximidade lingüística (é uma ex-colônia portuguesa) e porque foram mandados soldados do nosso exército para ajudar na reconstrução do país; mais do que isso foi ignorado por 99,9% da população brasileira, me incluindo aí. Mas este pouco que se soube ficou por conta do trabalho de pessoas como Rosely Forganes, que partiu para lá na cara e na coragem a serviço da Rádio Eldorado e passou alguns meses colhendo informações, vivenciando o sofrimento das pessoas e mandando notícias para nós. No final, todo este trabalho virou o livro “Queimado queimado, mas agora nosso! – Timor: das cinzas à liberdade”.

Para um entendimento melhor do contexto, uma rápida explanação sobre a história do Timor: uma ilha dividida ao meio, na qual a parte oriental permaneceu cerca de 4 seculos como colônia portuguesa. Em 1975, com o fim do domínio português, os timorenses do leste foram dominados pela Indonésia, senhora da parte ocidental da ilha, e assim permaneceram até 1999, quando um plebiscito decidiu pela nova independência. O problema é que a Indonésia não aceitou e iniciou um massacre, através de milícias supostamente autônomas. Neste competente trabalho jornalístico, Rosely Forganes nos conta detalhes de suas três viagens para o Timor, a primeira nos momentos finais da guerra civil, e as outras duas durante a reconstrução do país pelas forças internacionais (2000 e 2001).

A história contada é muito interessante, apresentando o contexto de toda aquela confusão e personagens reais que sofreram num país que foi praticamente todo incendiado pelas milícias. Através de sua leitura, conhecemos desde o morador mais simples de Díli (capital do país) até o maior herói nacional, o líder das forças de resistência Xanana Gusmão. Mas tamanho zelo com o pormenores, se não tornaram o livro demasiadamente grande, às vezes não acrescentaram muito, e me parece que umas duzentas páginas a menos não fariam muita diferença no objetivo, ainda mais pela grande quantidade de entrevistas transcritas. Algumas são extremamente curiosas, como a de um camarada que se diz herdeiro das famílias reais portuguesa e inglesa e da família Kennedy, e por isso tem direitos sobre as economias do Banco Mundial, mas como ele é honesto ele as cede para o povo timorense (!). Já outras não acrescentam muito, e poderiam ser omitidas.

Outra ressalva que faço à obra é a escrita da autora. Apesar de ter feito um excelente trabalho de jornalismo e ter contado uma história surpreendente e inédita para os brasileiros, Rosely Forganes não é escritora de ofício, e seu estilo é arrastado, improvisado e muito fraco, com repetições de palavras e expressões, às vezes até na mesma frase, o que geralmente cansa e torna a leitura das mais de 500 páginas ainda mais longa.

“Queimado queiamdo, mas agora nosso!” vem com um cd intitulado “Vozes do Timor”, com uma série de reportagens que foram ao ar na Rádio Eldorado, com transmissão ao vivo do Timor Leste, através de telefones de bombeiros portugueses ou do jeito que dava para a jornalista se virar. São cerca de 30 minutos de informações e depoimentos chocantes, todos presentes no livro, que como foram ouvidos antes de sua leitura, confesso, levaram este bruto escritor de blog às lágrimas.

Esta resenha é dedicada ao colega Marcelo, leitor do blog que me deu o livro como contribuição para a continuidade desta brincadeira que vai durar até o final do ano, quando eu completar o projeto de 52 (ou mais, quem sabe) livros lidos em 2008. Valeu mesmo, Marcelo! E que sirva de incentivo para outros leitores que quiserem fazer sua contribuição também, hehehe (já recebi outro livro que em breve fará parte do blog, mas quem não chora não mama).

Editora: Labortexto
Páginas: 507
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *