sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guinness World Records 2010 - O Livro da Década


Ganhei este livro como um presente de natal repassado por alguém que não tem o menor interesse por livros, mas sabe que eu tenho. Se esta pessoa tivesse ao menos folheado o "Guinness World Records 2010" talvez tivesse ficado com ele, pois mesmo sem muito costume de analisar qualquer coisa impressa, possivelmente perceberia que, na verdade, a obra é nada mais que um programa de televisão em forma de livro. Como um programa de generalidades, cada item é apresentado com riqueza gráfica e não tem mais do que um ou dois parágrafos explicativos, a maioria desnecessários, pois qualquer ser intermediário entre primatas e seres humanos pode perceber pelas fotos quando se trata do homem com o maior bigode do mundo ou o som mais alto saído de um vulcão.

Sem desmerecer o Guinness, que muito me encantava na infância, não tenho condições de avaliar isso como se fosse um livro, e depois de alguns minutos folheando esse festival de trivialidades, deixei-o num canto e fui lavar a louça do almoço. Desde então ele está no mesmo lugar, esperando para ser repassado como presente de aniversário para alguma criança curiosa. Pelo menos para ela o Guinness vai ser útil, pois renderá algumas tardes de boas risadas com os amigos, se divertindo ao saber quantas pessoas já entraram num Fusca ao mesmo tempo, além de ter um efeito visual ideal para um presente de criança - é grande, capa dura com efeito de brilho, papel de boa qualidade, projeto gráfico descolado e bastante ilustrado.

Editora: Ediouro
Páginas: 288
Disponibilidade: normal

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda


Se há livros que nunca perdem a atualidade, Raízes do Brasil é mais do que isso: continua necessário e fundamental para a formação do país. Uma tradução impiedosa do porquê das mazelas desta grande ex-colônia portuguesa, provoca ainda hoje, mais de 70 anos após sua primeira edição, a reflexão sobre como chegamos a níveis tão baixos de ética na coisa pública e quanto atraso isso nos produz.

As tais raízes referidas no título são nossas origens ibéricas, a colonização portuguesa, que recebe do autor maior importância em detrimento das outras contribuições originais do povo brasileiro - africanos e indígenas, mas engana-se quem pensa que isso é um elogio: ao contrário de outros pensadores anteriores (sobretudo Gilberto Freire, autor de "Casa Grande e Senzala"), Sérgio Buarque de Holanda (para quem não conhece, pai do cantor e irmão do autor do dicionário) encara nossas raízes ibéricas justamente como nossa maior desgraça, mas sem apelar para a imaginação de "realidades alternativas", como "teríamos destino melhor se fossemos colonizados pelos holandeses".

Raízes do Brasil começa então analisando a estrutura histórica dos povos ibéricos, para demonstrar características sociais e psicológicas que teriam sido nossa herança maldita. Apoiado em rigorosa pesquisa histórica, o autor aponta aspectos da colonização portuguesa, como a vontade de lucro rápido e fácil, sem planejamento para o futuro, e características do povo que permaneceram na nossa classe dominante, como a emotividade, e a incapacidade de largar isso no trato dos assuntos públicos. Isso foi escrito em 1936, mas ainda em 2010, quem nunca ouviu algum idiota dizer que consegue uma vaga em algum cargo público porque é "amigo" de um vereador?

Outra análise muito interessante presente neste livro é o que o autor chamou de "homem cordial": o brasileiro, em suas relações pessoais, é generoso, hospitaleiro, não por civilidade, mas pela emotividade e horror às relações impessoais - o total oposto do japonês. Lembro sempre disso quando estou numa fila demorada e alguém que eu nunca vi na vida tenta puxar algum assunto bem trivial.

Para Sérgio Buarque, toda essa cultura de emotividade chegou até nós com força via nossa classe dominante, que na época colonial era representada pelos grandes agricultores, que viviam como reis dentro de suas terras, mandando em todos à sua volta, sem serem incomodados por nenhum tipo de poder governamental. Essa mentalidade patriarcalista se manteve intacta por três séculos, e só começou a ser afetada quando a família real veio para o Brasil e o desenvolvimento da vida urbana teve início. O autor classificou este processo como a única revolução brasileira, a superação da vida e da mentalidade rural por uma realidade urbana, ainda em curso durante a escrita do livro.

Em sua época, a urbanização já era bastante avançada quando comparada com o século anterior, mas não chegava nem perto da que nós vivemos hoje. Entretanto, mesmo com as considerações de Sérgio Buarque de Holanda tão atuais, tenho a impressão que a tal revolução ainda não foi concluída e está longe de ser, tendo em vista todo o clientelismo e apadrinhamento existentes mesmo nos grandes centros urbanos, desde as trocas de favores com autoridades, até pequenas atitudes como aquele adiantamento no processo porque você tem um "amigo" no fórum, aquele remédio que o "amigo" enfermeiro conseguiu trazer do hospital público, aquela vaga na escola que sua "amiga" que trabalha na secretaria conseguiu reservar ou até a vista grossa na sua falta no emprego público porque o diretor é seu "amigo". Sérgio Buarque de Holanda não se calará ainda por muito tempo.

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 220
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *

Nota: Nelson Pereira dos Santos dirigiu um excelente documentário com o mesmo nome do livro, em 2004, sobre a vida de Sérgio Buarque de Holanda, no qual podemos ver, entre outras coisas, filmagens privadas do autor cantando em alemão e o Carlinhos Brown (seu genro) declarando que achava que seu sogro era quem havia feito o dicionário...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Crônicas do Rio - Raul Pompeia


A coleção Biblioteca Carioca era uma publicação do município do Rio de Janeiro que se prestava a publicar livros com temas relacionados à cidade, alguns volumes muito originais, como pesquisas acadêmicas, e outros, na falta daqueles, publicações de autores famosos que retratavam em suas obras o Rio de Janeiro de sua época, como Machado de Assis e Lima Barreto. "Crônicas do Rio", de Raul Pompeia (o autor de um livro considerado por muitos o mais chato da literatura brasileira, "O Ateneu"), foi o volume 41 da coleção.

Um apanhado de crônicas escritas pelo autor de "O Ateneu" para o jornal de Juiz de Fora "Diário de Minas", entre 1888 e 1889, o livro é uma pequena miscelânea de textos sobre o cotidiano da capital na época da derrocada da monarquia, para manter bem informados os leitores provincianos do que se passava na principal cidade de então: críticas sobre o cenário cultural do centro da cidade, alguma coisa sobre política e até notícias sensacionalistas de assassinatos cometidos por maridos traídos.

A pessoa que decidiu pela publicação desta obra pode ter tido a melhor das intenções, mas a minha impressão foi de um livro chatíssimo, de crônicas nem um pouco universais - só fazem sentido no seu contexto estrito - e úteis apenas para quem está pesquisando especificamente o Rio de Janeiro da época ou a obra completa de Raul Pompeia. Todos os livros da coleção estão esgotados, e alguns são bastante difíceis de encontrar. "Crônicas do Rio" até que não é difícil de encontrar em sebos, porém pode ser gratificante procurar os outros volumes mais difíceis da Biblioteca Carioca, pois há muita coisa melhor nos 40 volumes anteriores e em mais alguns lançados posteriormente.

Editora: Biblioteca Carioca
Páginas: 107
Disponibilidade: esgotado
Avaliação: * *