segunda-feira, 24 de novembro de 2008

The Beatles: A Biografia - Bob Spitz


Quando Bob Spitz decidiu escrever a biografia dos Beatles, certamente sabia que o trabalho teria que ser proporcional à grandeza da banda mais importante de todos os tempos. Daí saiu “The Beatles: A Biografia”, uma obra grandiosa em todos os sentido – da quantidade de páginas ao refinamento na exploração de uma das mais famosas histórias do mundo contemporâneo, uma lenda moderna.

“The Beatles: A Biografia” é uma história muito bem contada, que passaria perfeitamente como um roteiro de filme por causa da grande quantidade de passagens lendárias, já contadas milhares de vezes através das últimas quatro décadas. Mas o diferencial em contar novamente uma história contada e recontada, quase que já na sabedoria popular, é a complexidade com que Spitz trata sobre a vida dos quatro rapazes de Liverpool e dos personagens coadjuvantes – parentes, namoradas, esposas, empresários, produtores, amigos, fãs e todos que os rodeavam. Não faltam detalhes curiosíssimos sobre todos, a começar pela cidade-base desta história. Cada um que teve alguma influência sobre os personagens é analisado e relacionado com o Fab Four.

Bob Spitz trata com toda honra os principais feitos dos Beatles, desde os recordes batidos na época da beatlemania até as revoluções musicais de Sgt. Pepper e companhia, mas não por isso deixa de apresentar o lado negativo de cada um deles (menos de Ringo, que definitivamente é um cara legal) e das pessoas relacionadas, incluindo as que ainda hoje vivem, já que geralmente os biógrafos tendem a amaciar com quem ainda pode reclamar. Spitz não tem constrangimento algum em mostrar, desde os primórdios da banda, as personalidades de John, Paul e George influenciando os rumos da história da banda (positivamente ou negativamente), as mancadas de Brian Epstein, a segurança de George Martin, a malandragem de dezenas de aproveitadores e, obviamente, a interferência de penetras, principalmente (é óbvio) Yoko Ono – fã de Beatles que não odeia Yoko Ono não é fã de Beatles.

Acho que “The Beatles: A Biografia” foi o melhor investimento em livros que fiz este ano. Comprei em promoção por quase a metade do preço e me diverti por várias semanas, mas mesmo pelo preço cheio (R$ 99) valeria à pena, pois este é daqueles livros que de tanto ler você acaba viciando e sentindo falta depois de terminar. Definitivamente recomendado a todos os fãs de rock e a quem se interessar por como se formou a música de hoje em dia.

Editora: Larousse
Páginas: 982
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *

domingo, 16 de novembro de 2008

Assassinato no Expresso do Oriente - Agatha Christie


“Assassinato no Expresso Oriente” é a mais famosa aventura de Hercule Poirot, detetive belga criado por Agatha Christie que viciou alguns milhões de jovens na leitura através de gerações. A fama desta criatura e sua criadora são tão grandes que até minha irmã, de quem não se tem notícias de ter lido outro livro na vida, conhece e já leu este livro. Mas pelo incrível que pareça, depois de centenas de livros detonados, eu ainda não conhecia esta obra tão banalizada. Não dava para morrer sem ler pelo menos um livro de Agatha Christie, fosse para falar bem ou mal.

Peguei emprestado o tal do “Assassinato” com um amigo que passou pela ordem natural das coisas e leu alguns volumes das aventuras de Poirot durante a adolescência (obrigado D.Pedro!) e iniciei a experiência com alguns anos de atraso, como se estivesse vendo um episódio de Changeman ou jogando um cartucho de Master System – ou lendo Harry Potter daqui há 20 anos. A trama do livro é classicamente policial: um assassinato num trem, diversos suspeitos que estavam presentes no momento do crime, nenhuma possibilidade de fuga e Hercule Poirot no lugar chave no momento certo, o único que pode desvendar um crime que se complica a cada página.

Não sou fã de filmes policiais, e acho que nunca tinha lido um livro deste estilo, e esperava algo diferente do que li. Adoro lógica, e achei que este tipo de história corresse mais para este lado, mas minha impressão sobre este livro é que apelou-se mais para a fantasia; apresentam-se evidências, provas, mas achei que as conclusões do ilustre detetive foram um tanto... paranormais! Não que ele fosse um mutante ou coisa parecida, mas chegar à conclusão final juntando as evidências contraditória e loucas que se apresentam, não sei, foi mais para adivinho do que detetive. Elas até batem no final, mas me pareceu meio apelação. “Assassinato no Expresso Oriente” é um livro razoável na apresentação do crime e nas ações posteriores, chega a cativar inicialmente e instigar o leitor, mas dava para ser mais lógico e menos fantasioso no seu desfecho. Afinal, qual a graça de um livro onde o objetivo é descobrir o mistério e, no final, a autora inventar uma explicação louca, com um mínimo de coerência, só para zoar com o leitor?

Editora: Nova Fronteira
Páginas: 223
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

domingo, 2 de novembro de 2008

O Livro Verde do Aiatolá Khomeini


Em 1979, Aiatolá Khomeini assumiu o poder no Irã, no lugar do Xá Mohammad Reza Pahlavi, que era apoiado pelos EUA. Foi a chamada “Revolução Islâmica”, que reorganizou todas as esferas da vida no Irã e marcou o início de uma nova ordem no Oriente Médio, dificultando as coisas para os ianques. Começou aí um confronto que dura até hoje, e na época surgiu um interesse súbito na figura do aiatolá, comparável a Bin Laden depois de 11 de setembro de 2001. Nessa onda, já em 1979 foi publicado para o público ocidental “O Livro Verde dos princípios políticos, filosóficos, sociais e religiosos do Aiatolá Khomeini”, uma compilação das idéias do líder iraniano contidas em seus três livros-chave: “O Reino do Erudito”, “A Chave dos Mistérios” e “A Explicação dos Problemas”, que somam mais de mil páginas e seriam maçantes para o público não-muçulmano (ou para os muçulmanos sem neuroses).

Logo no início da leitura, percebe-se claramente que sua edição foi direcionada pelo “inimigo” ocidental, pois a edição dos temas é visivelmente conduzida no sentido de uma exposição pejorativa e tendenciosa para ridicularizar os ensinamentos do aiatolá – trabalho que não deve ter sido nem um pouco difícil, dadas as excentricidades contidas nas páginas desta “obra”. Pobres árvores que até hoje são sacrificadas para a produção desta baboseira, que serve de lavagem cerebral para uns malucos fundamentalistas, e fonte de gargalhadas para outros como eu.

Com a intenção de ridicularizar os “princípios” do aiatolá, os organizadores do livro verde adotaram a seguinte estratégia: após um breve capítulo inicial onde são expostos os princípios políticos da República Islâmica do Irã (que supostamente seria “constitucional e democrática”, mas de onde a lei provém do Corão, os países ocidentais são ditaduras, as artes são proibidas, os homens e mulheres têm direitos diferentes...), começa a (auto) ridicularização aberta. Nas “citações históricas”, fiquei sabendo, por exemplo, que Sócrates foi um grande teólogo que se refugiou numa gruta para adorar ao Deus único, e por isso foi condenado à morte pelo sultão. Já Platão foi um “grande filósofo, conhecido pelos seus princípios monoteístas e por saber muito de ciência divina. Nasceu no reino de Artaxerxes, filho de Dário(...)”. Já sobre Aristóteles, a coisa fica mais pesada: “Aviceno disse que ninguém jamais conseguiu contradizer as suas teses. Não obstante, mais tarde, o francês Descartes julgou descobrir falhas nelas. Mas os especialistas constatarão facilmente a que ponto as pretensões de Descartes em matéria de filosofia e teologia são infantis e sem fundamento!” Ou seja, descobriram novas fontes históricas que provam que os filósofos gregos eram, na verdade, persas, que os persas, na verdade, eram monoteístas, ou que os gregos, na verdade, eram governados pelo imperador persa, ou que, na verdade, eram governados pelo sultão, que na verdade não era um título de governantes muçulmanos, mas já existia na antiguidade, ou que na verdade os filósofos gregos nasceram depois do advento do Islã. Quer dizer, acho que não entendi muito bem as lições de história do aiatolá, mas pelo menos descobri que Descartes não é nada disso que falam, não fundamentou o pensamento moderno e era, na verdade, só um fanfarrão!

O escrachamento continua nas “citações sociais e religiosas – leis divinas que regem a vida cotidiana”. Uma delas, contida na parte “Da maneira de urinar e defecar”, é a seguinte: “em três casos é absolutamente necessário purificar o ânus com água: quando os excrementos foram evacuados com outras impurezas, sangue, por exemplo; quando algo impuro tiver roçado o ânus; quando o orifício anal ficou mais sujo do que de costume. Fora esses três casos, pode-se lavar o ânus com água, ou limpá-lo com um pano ou uma pedra.” Está escrito exatamente isso, com uma pedra! A lição continua com “não é necessário limpar o ânus com três pedras ou três pedaços de pano, uma só pedra ou um só pedaço de pano bastam. Mas, se se limpa o ânus com um osso ou com coisas sagradas, um papel contendo o nome de Deus, não se pode fazer as orações nesse estado.” Eu juro que é tudo verdade, quem não acreditar que compre o livro e leia com os próprios olhos!

No livro verde, há regras para quase tudo: casamento, sexo, refeições, orações, purificação de coisas, banhos... e seguem-se absurdos lógicos, físicos e morais, que facilmente caem em contradição. Se eu fosse fazer um “melhores momentos”, teria que transcrever quase que o livro todo aqui, mas vamos aos melhores-melhores momentos. Por exemplo, no Irã a homossexualidade é rigidamente coibida, mas encontrei vários furos que, se não chegam a permitir, pelo menos não a proíbem. “A mãe, a irmã e a filha de um homem que tiver sido sodomizado por outro homem, não pode casar com este último, mesmo no caso de os dois homens ou um deles não ser púbere.”“Se o homem sodomizar o filho, o irmão ou o pai de sua esposa após o casamento, este permanecerá válido”. E a sodomia entre homem e mulher também é regrada: “Durante a menstruação da mulher, é preferível o homem evitar o coito, mesmo que não a penetre completamente – ou seja, até o anel da circuncisão – e que não ejacule. É igualmente desaconselhável sodomizá-la.” Se, mesmo assim, o cara não aguentar e dar umazinha, ele tem que doar uma quantia de ouro aos pobres, variável de acordo com qual dia da menstruação ele transou. Mas... “sodomizar uma mulher menstruada não torna necessário este pagamento”. Por que tanta preocupação com a regulamentação da sodomia em um país onde ela é proibida?

Possivelmente existem trechos menos ridículos no original, mas a intenção primordial era agredir o inimigo, não apresentar uma verdadeira imagem do mesmo. Apesar de divertido para nós, com certeza este livro foi mal-entendido por leitores menos críticos e provavelmente gerou mais preconceito em relação a povos muçulmanos do que um real conhecimento sobre eles. Até porque estes “ensinamentos” foram criados pelo aiatolá Khomeini, líder religioso do Irã, não se estendendo à grande pluralidade de povos que têm como religião o Islã. Podem existir muitos muçulmanos que sigam ideias absurdas como as expostas neste livro, assim como cristãos, judeus, budistas, jainis, ou qualquer outra religião, mas mesmo que, para mim, as ideias religiosas não passem de superstição, fraqueza e medo da morte, a grande maioria de fiéis não se baseia em loucos como Khomeini para decidir com qual mão deve limpar o ânus após ir ao banheiro. Sou a favor da publicação irrestrita de qualquer material, seja o livro verde, o Mein Kampf de Hitler ou da bíblia cristã, mas que haja uma introdução crítica para as mentes menos capazes. Parece idiota, mas não subestimemos pessoas que não sabem a diferença entre árabe, turco e muçulmano, pessoas essas que são capazes de colocar um G.W. Bush por oito anos no comando da nação mais perigosa do mundo.

Editora: Record
Páginas: 133
Disponibilidade: esgotado
Avaliação: * * * *