sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tristessa - Jack Kerouac


Na década de 1950 surgiu um movimento nos EUA chamado “Geração Beat”, que se caracterizava por autores "toscos", que escreviam espontaneamente sobre experiências pessoais, sobretudo com sexo e drogas (o rock`n`roll ainda não tinha entrado no meio). É uma chamada interessante que me fez buscar algum representante deste movimento para conhecer melhor, e escolhi Jack Kerouac com seu “Tristessa”, primeiramente pelo fato do autor ser um dos mais famosos escritores do movimento, fazendo um tipo de santíssima trindade com Allen Ginsberg e William S. Burroughs; mas também por “Tristessa” ser o nome de uma música do Smashing Pumpkins, uma de minhas bandas prediletas. Ok, também porque foi o livro mais barato de Kerouac que encontrei...


Tristessa é a história autobiográfica do autor num período passado na cidade do México, quando ele se apaixonou por uma prostituta viciada em drogas, quem dá nome ao título, mas na vida real chamava-se Esperanza. No caminho de outros autores como Henry Miller ou Virginia Woolf, não há uma história com início, meio e fim, o livro se prende mais a sensações, emoções, especulações, impressões através do submundo da capital mexicana. O que mais me impressionou foi a habilidade do autor durante a narração no momento em que as drogas começam a fazer efeito. Não sei se ele estava realmente drogado na hora em que estava escrevendo, o certo é que ele conseguiu passar muito bem a loucura da droga através das páginas, de forma gradual. O texto começa a perder o sentido aos poucos, com o autor tentando fazer amizade com uma galinha que vive no quarto de Tristessa, até chegar a um momento de abstração total, e depois, como se a droga começasse a perder o efeito, o texto volta ao normal. Outra peculiaridade da escrita de Kerouac é a inserção de preceitos budistas em sua obra, resultado de seu interesse pelo assunto na vida real.

Seguindo o estilo Beat, Jack Kerouac tem uma escrita extremamente espontânea, escrevendo o que dá na telha, tanto que num certo ponto ele admite: “Eu agora perdi o fio de meu pensamento”. Era assim que eles escreviam, sem voltar para corrigir nada, o que estivesse na cabeça era escrito, o que causa uma estranheza inicialmente. Em muitos momentos senti falta de algumas vírgulas. Mas senti que o texto perdeu muito com a tradução, pois há alguns jogos de palavras que não encaixaram muito bem no português, bem como a inserção de diversas palavras em espanhol no original que perdem a força junto a uma língua tão parecida.

Em principio gostei de Jack Kerouac e pretendo conhecer outros autores da Geração Beat, mas certamente privilegiarei versões originais, pois este tipo de escrita perde muito com traduções, mais do que o que normalmente acontece. “Tristessa” é uma leitura para uma tarde, e se fosse no original acho que minha avaliação seria superior a regular, mas pelo menos me deixou com a música do Smashing Pumpkins na cabeça durante todo o dia. Agradeço a Jack Kerouac por isso, pois fez meu cérebro esquecer um insuportável jingle de campanha de um candidato a prefeito da cidade onde moro e não voto, que insiste em passar pelo menos umas vinte vezes por dia na porta do meu prédio.

Editora: L&PM
Páginas: 101
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Cinco semanas em um balão - Julio Verne


Desde a leitura de “Atribulações de um chinês na China”, um livro com altos e baixos, fiquei refletindo em relação a Julio Verne. Sempre tive vontade de conhecer sua obra, tendo em vista a quantidade de famosas histórias que encantaram gerações de jovens. Comecei este ano, por acaso, com o livro citado acima, mas minha avaliação foi abaixo do que eu esperava de um autor tão querido. Apesar da história, em alguns momentos, ser um pouco monótona, gostei de seu estilo, e me foi imperioso dar outra chance a Julio Verne, deste vez com um livro mais conhecido e recomendado, “Cinco semanas em um balão”.

E acertei ao dar outra chance a Julio Verne. “Cinco semanas em um balão” não é uma obra-prima, mas é um livro muito divertido, simples, agradável e cheio de aventuras mirabolantes, como é característico de Verne, que ao lado de Stevenson e Kipling representa o espírito europeu do século XIX. O livro narra a grande aventura do Dr. Fergusson, pesquisador inglês, ao lado de seu criado Joe e seu amigo Richard Kennedy, através de uma viagem pela África a bordo de um balão, meio de transporte na época rudimentar e inseguro, o que torna perigoso e emocionante o trajeto permeado de desafios e descobertas maravilhosas. A história por si só já é muito divertida, mas o que torna o livro realmente interessante são as entrelinhas da mentalidade de uma sociedade européia do século XIX, o que vale alguns comentários.

Não se pode ler Julio Verne, como nenhum outro autor, sem compreender seu contexto histórico, sob o risco de avaliar erroneamente sua obra e sua importância para a literatura e o conhecimento da época. Deve-se ler Julio Verne com os olhos de uma pessoa do século XIX, pois este era o público alvo esperado pelo autor, não nós. No século XIX, a ciência avançava a largos passos, emitindo pareceres praticamente incontestáveis, pois as maravilhas que ela trazia consigo – como a luz elétrica, a energia a vapor – a elevavam a um status de salvadora da humanidade; para os homens do século XIX, todos os problemas seriam resolvidos pela ciência. Um deste dogmas científicos era o da superioridade da “raça ariana” sobre a “negróide” e a “mongolóide”. O instigante é que a chamada Época Vitoriana também se caracteriza pela religiosidade e forte moralismo. 

O que hoje entendemos como racismo era incontestável naquela época, não existia sentimento de igualdade racial em lugar algum do planeta, foi preciso acontecer o holocausto na II Guerra Mundial para que o mundo abrisse os olhos para isso. Não seria Julio Verne nem qualquer outro samaritano iluminado que mudaria isso sem qualquer razão histórica. Desculpem-me os adeptos da pré-destinação, mas em minha opinião ninguém é bom por natureza, o homem é fruto de seu tempo, a bondade só existe com cultura e estudo, “a ignorância é vizinha da maldade”. Não duvido que no futuro olhem para o século XXI e não entendam como é que as pessoas permitem uma configuração social excludente como a nossa - tendo otimismo que um dia a humanidade vai mudar nesse aspecto.

A primeira coisa que precisamos para ler Julio Verne é exatamente ter em mente que o autor viveu seu tempo, como qualquer ser humano na História, e relativizar idéias obsoletas e desagradáveis para nós, cidadãos do século XXI. Uma característica da escrita de Verne que hoje em dia pode nos causar repulsa é o racismo presente em alguns trechos. Numa passagem, os personagens se julgam cercados por africanos, mas depois percebem que na verdade são macacos. Os comentários não poderiam ser mais ofensivos:

- Nós julgávamos que te haviam cercado os indígenas.
- Felizmente não passavam de macacos – respondeu o doutor.
- A diferença de longe não é grande, caro Samuel.
- Nem mesmo de perto – replicou Joe.

Em outra parte, os personagens comentam que é melhor negociar com os árabes do que com os negros, porque são “menos selvagens”. Outro preconceito da época largamente difundido do livro é a oposição entre a Civilização (Europa) e a Barbárie (África), incluindo justificativas para o colonialismo europeu. Ao resgatar um missionário francês preso por cinco anos por uma tribo africana, os personagens perguntam por que empreender uma missão perigosa como aquela, no que o religioso responde: “são almas que devemos resgatar”, a velha explicação para a brutalidade do colonialismo. Entretanto, é curioso que o autor não poupe críticas neste sentido também à Europa, pois num certo momento ele questiona se a execução pela forca, prática comum na Europa daquele tempo, não seria também uma selvageria.

A superioridade da ciência também tem espaço garantido em “Cinco semanas em um balão”. “Mas que remédio há senão submeter-se, aceitar de tempos em tempos o que a ciência ensina” é uma das apologias ao grau absoluto de conhecimento da época. Ao homem cabia dominar a natureza e transformá-la em seu proveito. Naturalistas que não relativizarem a leitura ficarão horrorizados com a quantidade de animais caçados por Richard Kennedy, que tem uma fixação em matar que em algumas vezes é freada pelo Dr. Fergusson, mas em outras é até estimulada – caso de animais julgados perigosos, como crocodilos e leões. É engraçado ver que não existia nenhuma noção de cadeia alimentar e equilíbrio da natureza, há uma sugestão no ar de que os animais predadores eram maus e as presas vítimas inocentes. Ainda sobre a ciência, uma característica muito marcante na obra de Verne é a apresentação de novas tecnologias, a explicação de fenômenos que promovem o funcionamento de inventos, como no presente caso a luz elétrica e o próprio balão utilizado pelos personagens. A descrição dos processos químicos e físicos é minuciosa, tudo aquilo era uma grande novidade, o avanço cientifico e tecnológico do século XIX foi fantástico para aquelas pessoas.

Mas de todos os aspectos do livro, o que mais me chamou a atenção foi a apresentação das expedições na África ocorridas na vida real. Até meados do século XIX, quase nada se conhecia sobre a África. As únicas localidades alcançadas por europeus eram pontos na costa africana. Com o impulso imperialista, surgiu a necessidade de conhecer o interior para descobrir as possibilidades de exploração colonial, o que levou à criação de inúmeras sociedades de Geografia e ao envio de diversos aventureiros para aquelas terras até então desconhecidas, fantásticas, que despertavam divagações e ferviam a imaginação dos escritores. Isso se tornou uma mania nacional em toda a Europa. As pessoas acompanhavam as aventuras de personagens reais como Livingstone e Speke através dos jornais. Os exploradores do século XIX eram contratados pelas sociedades de Geografia e também por jornais, incentivados pela procura do público por tais aventuras da vida real. Muitos deles ficavam anos incomunicáveis e depois reapareciam, para delírio do povo. Era comum que alguns deles se perdessem, criando-se assim novas expedições para resgatar os exploradores anteriores.

Julio Verne apresenta brevemente em “Cinco semanas em um balão” a história dos principais exploradores daquele tempo, que aliás serviram de base para todo o livro, pois o autor nunca pisou na África, mas como prova de sua genialidade narrativa descreve as paisagens, vegetações e pontos geológicos com precisão e beleza.

Uma passagem do livro me chamou muito a atenção, veja se você identifica o porquê:
“Se me dais licença meu amo, vou arremessar-lhes uma garrafa vazia. Se lá chegar sã e salva, hão de adorá-la; se se quebrar, farão dos bocados outros tantos talismãs!”
Em outra parte, quando arremessam outro objeto do balão, um deles exclama: “Os negros hão de ficar bem espantados quando encontrarem este objeto na floresta. São capazes de fazer deles ídolos”.
Quem via Sessão da Tarde nos anos 90 vai de cara se lembrar de “Os deuses devem estar loucos”!

Os personagens do livro são muito legais, se completando: o Dr. Fergusson com sua serenidade, liderança e conhecimentos que sempre salvam a trupe; Richard Kennedy com suas habilidades de caçador e prontidão para qualquer parada; e Joe, o fiel escudeiro de Fergusson, o que se pode chamar de uma cara “safo”, que dá o jeito dele em qualquer situação. A escrita de Verne é agradável e divertida, não enjoa nem cansa o leitor com repetições de palavras. Não é o que se pode chamar de excepcional, mas simplesmente posso afirmar que fiquei satisfeito, como depois de uma refeição muito gostosa. Procurarei outros livros de Verne para me divertir, e recomendo “Cinco semanas em um balão”, mas sugiro que sua leitura se faça com um mapa da África ao lado. Para mim foi quase irresistível procurar as localidades presentes no texto e traçar o caminho percorrido pelos três aventureiros, apesar da dificuldade por causa de alguns nomes que não são mais usados hoje em dia.

Editora: Hemus
Páginas: 264
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

terça-feira, 5 de agosto de 2008

SIMPLES - Marcos T. Riyis e Roleplaying Game e a Pedagogia da Imaginação no Brasil - Sonia Rodrigues


Como já é de conhecimento público, sou jogador de RPG há mais de 15 anos e tenho uma grande dívida com esta atividade no que diz respeito à minha formação, desde o estudo forçado de inglês para entender os manuais do AD&D, que na época ainda não haviam sido traduzidos, até o vício pela leitura, o estímulo à criatividade e muitos outros benefícios que o RPG traz para jovens em formação intelectual e de caráter. Mesmo se eu quisesse, não teria como desvincular o RPG da minha história de vida.

O RPG teve influência decisiva nas minhas preferências, uma delas o estudo de História. Assim como eu, muitos jovens devem ter passado por isso: jogavam RPG, resolveram estudar História por causa dos recorrentes temas históricos dos RPGs clássicos, sobretudo Idade Média, começaram a trabalhar com educação e decidiram juntar o trabalho com o RPG. Afinal, qual rpgista nunca sonhou em ganhar a vida jogando RPG? Criar um sistema e viver disso é mais difícil, então por que não utilizar o RPG na educação? Se trouxe inúmeras vantagens à minha formação, por que não aos meus alunos, ainda mais utilizando temas abordados pela disciplina regular? Mesmo com este pensamento latente, garanto que muitos devem ter pensado em se tratar de uma idéia meio doida, sem viabilidade, e alguns devem até ter ficado constrangidos em cogitar tal hipótese, até que descobriram não estarem sozinhos, e que já existem diversos trabalhos e estudos nesse sentido, incluindo teses de mestrado e doutorado.

Desde a época de faculdade eu já sabia da existência deste trabalhos, e quando iniciei minha carreira na licenciatura me senti fortemente inclinado a participar desta inovadora prática pedagógica. Descobri a série mini-Gurps, de fácil acesso, e experimentei em sala de aula, com o apoio de alunos que já conheciam o RPG. Resultado: sucesso absoluto, mesmo com os que não conheciam e com os que conheciam mas achavam que era coisa de nerd otário. Tudo bem, é coisa de nerd sim, mas não de otário. Devido ao resultado, resolvi utilizar o RPG na educação de maneira mais ampla, fora do horário das aulas, e para isso preciso do apoio da Secretaria de Educação, que precisa de um projeto fundamentado. Por isso, recorri a inúmeras teses, paginas de internet e livros de especialistas no assunto. Dois deles são estes aí: “SIMPLES – Manual para o uso do ‘RPG’ na educação, de Marcos Tanaka Riyis, e “Roleplaying Game e a pedagogia da imaginação no Brasil”, de Sonia Rodrigues.

SIMPLES é a sigla para “Sistema Inicial para Mestres-Professores Lecionarem Através de uma Estratégia Motivadora”. Como se pode supor, é um sistema bem básico, para professores que conhecem pouco ou nada sobre o RPG. Obviamente não comprei o livro com o objetivo de aprender a jogar RPG com os alunos, mas sim de entrar em contato com as idéias e as experiências de quem já trabalhou deste modo, e neste sentido o SIMPLES foi bem instrutivo para mim.

Não se trata de uma obra teórica complexa, com fundamentações pedagógicas obscuras, mas SIMPLESmente (hehehe) uma explanação sobre como jogar RPG com os alunos e os resultados pessoais de Marcos Riyis, que apresenta seu sistema, suas justificativas e exemplos. Para mim serviu de grande apoio, sobretudo na questão dos Live Actions, modalidade em que se representa mais corporalmente os personagens, aparentemente de maior apelo aos alunos, mas que eu nunca joguei, não domino muito bem e não tinha idéia de como usar com a garotada. Há também que se destacar algumas atividades corporais interessantes propostas no livro, tendo em vista que o autor é professor de Educação Física, e que eu sou professor de História metido a professor de Educação Física, jogo bola com os alunos e todo ano promovo um evento esportivo, seja mini-PAN (ano passado) ou mini-Olimpíada (este ano) ao lado do professor de Educação Física (o de verdade). As atividades físicas vão cair bem, tanto em Live Actions como nas minhas investidas educacionais esportivas.

Se você se interessar, não adianta procurar em livrarias que não vai encontrar. O livro é de uma editora pequena (Jogo de Aprender), criada pelo autor, e basta entrar em contato com ele para adquiri-lo: www.jogodeaprender.com.br ou marcos@jogodeaprender.com.br. É um cara bacana, que mesmo antes de eu comprar o livro me enviou gratuitamente por e-mail um artigo seu e duas aventuras prontas. Todo o material vai me ajudar bastante.

Em contrapartida, o outro livro já é uma obra teórica mais erudita, sem os exemplos práticos, a primeira tese de doutorado em RPG no Brasil. Mas para a minha surpresa, nada neste livro passa perto da utilização do RPG em sala de aula, como é de se supor pelo subtítulo. A tese trata da leitura e da produção de textos por alunos e jovens jogadores de RPG, mas gira muito mais em torno de obras de literatura do que de RPG.

A autora, que é filha do Nelson Rodrigues, começa apresentando o RPG para quem não conhece (incluindo provavelmente a banca examinadora da tese), partindo no capítulo seguinte para a teorização sobre a fantasia e a ficção, no qual são vomitados diversos filósofos e teóricos da literatura que nunca ouvimos nem ouviremos falar na vida real. Nos capítulos do meio do livro, são apresentados os três RPGs mais populares no Brasil, o AD&D, o Gurps e o Vampiro, a máscara. Nesta parte percebi que o livro não ia terminar bem para mim, pois nota-se que a autora sabe o bastante de literatura para chegar ao título de doutorado, mas não conhece muito bem o RPG, e sobrou para o Gurps, que a autora classifica como “o cálculo e o software na narrativa”. Segundo Sonia Rodrigues, o livro de regras do Gurps é complicado porque as coisas estão dispersas pelos capítulos, como um hipertexto, e sua opinião é de que “para o comum dos mortais acostumado, desde a invenção da escrita, com o predomínio da estrutura linear em textos informativos, a forma do Gurps é algo próximo à tortura mental”. Deve ter sido difícil para ela mesmo, tendo em vista seu desconhecimento de algo tão banal como a sigla NT, que qualquer moleque que começa a jogar RPG sabe o significado (Nível Tecnológico).

Não que a autora odeie RPG, senão ela não produziria uma tese defendendo sua utilização na educação. Ela elegeu um queridinho, e este é o “Vampiro, a máscara”, que na sua concepção privilegia mais o “contar histórias” do que as regras. Tudo isso porque este RPG não é genérico – quando pode-se jogar em qualquer cenário –, é temático, obviamente num mundo onde existem vampiros. A partir de então ela explica o porquê do sucesso entre os jovens, dando a impressão que ela enxerga o “Vampiro” como uma melhoria evolutiva do RPG. É claro que seu interesse certamente seria por um RPG relacionado ao “contar histórias”, mas se ela pesquisasse um pouquinho mais os outros RPGs veria que também existem ambientações extremamente detalhistas para AD&D e Gurps, inclusive sobre vampiros. O problema é que ela só se ateve aos manuais básicos, limitando sua compreensão a respeito do assunto. Esse é um dos problemas que acontecem quando alguém que não faz parte de uma cultura tenta estudá-la e interpretá-la.

Depois deste bloco de apresentação dos principais RPGs, mais teorização no capítulo “Roleplaying Game como produto da cultura de massa”: o que caracteriza uma cultura de massa para Adorno e Cia e como o RPG está inserido nesse contexto. Pura chatice intelectualóide dispensável. Sonia Rodrigues fecha sua tese com um capítulo que mais é uma propaganda sobre o jogo de sua autoria (que inclusive se chama “Autoria”), porque ele é ótimo para ser usado na educação, seu futuro lançamento em versão software, sua contribuição para quem quer ser escritor, mas termina-se sem saber ao certo como este jogo funciona, pois nada a respeito é apresentado previamente.

“Roleplaying Game e a Pedagogia da Imaginação no Brasil” pode ser importante para o ramo por se tratar da primeira tese de doutorado a respeito do tema, pode ter seu brilho teórico-acadêmico, mas antes de mais nada é profundamente chato e em nada ajuda na prática em sala de aula. Pode até servir como um bom argumento para justificar a utilização do RPG com os alunos, mas bastava uma resenha de duas ou três páginas com as principais idéias da autora.

SIMPLES

Editora: Jogo de Aprender
Páginas: 85
Disponibilidade: www.jogodeaprender.com.br ou marcos@jogodeaprender.com.br
Avaliação: * * * *

Roleplaying Game e a Pedagogia da Imaginação no Brasil

Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 209
Disponibilidade: normal
Avaliação: * *

sábado, 2 de agosto de 2008

Arqueologia: Estudos e Pesquisas - Carlos Alberto Azevedo


Arqueologia é um tema que sempre achei chato. Já cheguei até a trabalhar com isso durante um tempo, daí meu desinteresse e implicância, já que tinha como obrigação estudar os procedimentos arqueológicos para servir de material para um livro de um canastrão que me contratou. Ver os resultados, descobrir o passado, isso é interessante, mas ser arqueólogo deve ser um porre. Lendo aquilo, eu me perguntava: como é que alguém pode gostar de ficar cavando buraco no chão?

Ainda bem que existem arqueólogos no mundo que cavam os buracos e nos mostram como era o mundo há muito, muito tempo atrás. Este meu interesse, não na arqueologia em si, mas nos resultados dela, me levaram inclusive a uma viagem pelo interior do Nordeste em busca de sítios arqueológicos, e na entrada de um deles encontrei vendendo “Arqueologia: Estudos & Pesquisas”, de Carlos Alberto Azevedo.

Confesso que, por causa da minha quase total ignorância no assunto, nunca tinha ouvido falar do autor, mas se eu estivesse um pouquinho inserido neste mundo real de Indiana Jones e Tomb Rider, já deveria conhecer, já que Azevedo tem um amplo currículo no assunto em universidades européias e tem participação ativa nas pesquisas arqueológicas em seu estado, a Paraíba.

O motivo maior para eu ter comprado este livro foi o fato de eu ter visitado o sítio arqueológico da cidade de Ingá e, apesar de ter ficado impressionado com o que vi, não entendi bulhufas de seu significado. Quando vi o livro, achei que era oportunidade de absorver alguma informação interessante, para ter um acréscimo intelectual, e não só uma admiração estética pelo maravilhoso patrimônio que eu acabara de conhecer.

“Arqueologia: Estudos e Pesquisas” é uma compilação de textos do autor, independentes entre si, divididos em duas partes, de mesmo nome do título. A primeira parte, “estudos”, é o que há de interessante no livro: artigos explicativos sobre diversas modalidades de arqueologia. Excetuando-se o primeiro texto, que é uma leitura crítica de uma outra obra do mesmo ramo, os artigos apresentam questões não muito profundas ou complicadas sobre a disciplina, tomando como exemplo sítios arqueológicos brasileiros, ao alcance de qualquer um, incluindo o sítio do Ingá. Há também textos que tratam da arqueologia submarina no estado da Paraíba e um muito interessante intitulado “Pré-história e ufologia”, uma refutação aos que entendem as marcas deixadas por nossos antepassados como ações de homenzinhos verdes... Meu interesse pelo livro terminou na primeira parte, já que a seqüência, “Pesquisa”, não passa de um apanhado de questões profissionais dos arqueólogos, com descrições técnicas de sítios arqueológicos, resultados de trabalhos e um projeto de pesquisa.

O livro de Carlos Alberto Azevedo é uma produtiva introdução aos leigos que buscam entender alguns segredos desta ciência de procedimentos chatos, mas resultados interessantes. Pelo menos até o final da primeira parte.

Editora: Idéia
Páginas: 143
Disponibilidade: site da editora http://www.ideiaeditora.com.br/
Avaliação: * * *