“A incrível história de Paulo Coelho, o menino que nasceu morto, flertou com o suicídio, sofreu em manicômios, mergulhou nas drogas, experimentou diversas formas de sexo, encontrou-se com o diabo, foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé e se transformou em um dos escritores mais lidos do mundo”. Esta é a chamada para “O Mago”, a biografia de Paulo Coelho, e o que despertou meu interesse em ler o livro (exceto a partir da parte que diz “redescobriu a fé”).
Adoro biografias, independente do que a pessoa fez na vida. Se teve uma vida interessante e contribuiu para a história, me interessa. No caso de Paulo Coelho, a vida que é contada no livro é interessantíssima, e a contribuição a que me refiro diz respeito às músicas de Raul Seixas, e não aos seus livros esotéricos de auto-ajuda. Na verdade, até então eu não tinha uma opinião formada sobre a obra de Paulo Coelho. Apesar de já ter lido três de seus livros (“O Diário de um Mago”, “As Valkírias” e “Veronika decide morrer”), eu não podia dar minha opinião sobre eles, já que suas leituras aconteceram na adolescência, nebulando (na verdade anulando) minha memória, e mesmo que lembrasse acho arriscado dar opiniões de uma época de formação, quando minhas idéias estavam nascendo e minhas experiências literárias eram quase nulas. Só me lembrava que gostava, mas a última leitura havia sido há dez anos, aos 16 aninhos. Foi o suficiente para pegar na estante alguns livros e dar uma folheada e me certificar que a opinião da crítica não é nada injusta: os livros são uma merda mesmo! Mesmo assim, tenho gratidão por Paulo Coelho, primeiro por seus livros representarem a fase em que eu comecei a ler livros “de adulto”, ou seja, seus livros me incentivaram para o mundo da leitura, e depois porque vi uma entrevista em que ele recomendava “Trópico de Câncer”, de Henry Miller, dizendo que o livro havia revolucionado sua vida. Depois disso procurei o livro, li e também revolucionou minha vida (agora sim eu realmente entrava no mundo dos livros “de adulto”), mas hoje penso: como é que alguém que se inspira em Henry Miller pode se tornar um escritor tão ruim?
“O Mago” foi escrito por Fernando Morais, excelente escritor de quem eu já tinha lido o fantástico “Corações Sujos”. Acho que é a primeira vez na história que surge uma biografia de um escritor em que o biógrafo é melhor do que o biografado. Além de sua escrita leve, dinâmica e muitas vezes engraçada e irônica, Morais mostra que promoveu uma extensa pesquisa sobre a vida de Paulo Coelho, utilizando fotos, memórias alheias e documentos oficiais (contratos, laudos médicos, ficha no DOPS), mas sobretudo um baú onde Paulo Coelho guardava um diário desde sua adolescência, que ele planejava que fosse queimado depois de sua morte, mas que mudou de idéia (talvez pelas cifras prometidas pela editora) e liberou para o biógrafo.
Fernando Morais apresenta uma vantagem e uma desvantagem marcantes neste livro. A vantagem é que não escreveu um livro apologético, tentando valorizar o escritor, mas mostrou lados obscuros dele em detalhes. Parece até que a biografia foi feita sobre alguém já morto, o que evitaria constrangimentos, e isso eu tenho que admirar em Paulo Coelho: ele foi contra Roberto Carlos na confusão provocada pela publicação de sua biografia, e aparentemente não interferiu em nada escrito no livro. Morais também não poupa as pessoas que se relacionaram com ele, mas a desvantagem de sua escrita é que a vantagem desaparece num certo ponto do livro. A partir do momento em que se junta a Cristina, sua atual mulher, alguns detalhes, como as peripécias sexuais desaparecem, e muito de sua vida após cerca de 1990 deixa de ser interessante, justamente por escassearem os podres. Me parece que aí o autor amarelou, ficou com medo de ofender a mulher dele, não sei. Mas o livro não perde a graça por completo, pois é nesta parte que aparecem as críticas aos livros de Paulo Coelho, e mostra como ele foi escroto com seus contratos, seus lançamentos e sua candidatura à ABL.
“O Mago” é uma leitura muito divertida, e diria até instrutiva, para que as pessoas conheçam melhor quem é o "mago" por trás das belas colunas de jornais de grande circulação que iluminam as semanas de donas de casa de todo o país. Afaste seus preconceitos e esqueça o lixo literário produzido por Paulo Coelho: "O Mago" é um livro que vale a pena ler.
Editora: Planeta
Páginas: 632
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *
Alguns dos “melhores momentos” do livro:
“Cissa foi acordada às duas da manhã por um estrondo assustador, como se uma bomba tivesse explodido dentro da casa. Levantou-se apavorada e deu com o marido na sala do apartamento, com um rojão queimado na mão. Devidamente abastecido de um bom baseado, ele decidira festejar seu aniversario e estava explodindo rojões para o céu, para desespero da vizinhança. Tudo, claro, registrado par a posteridade pelo gravador:
Paulo – Agora é 1:59 do dia 24 de agosto de 1976. Estou completando 29 anos. Vou soltar um foguete comemorando quem sou eu e vou gravar o barulho. [ruído do estouro do foguete]. Que barato! As pessoas vieram pra janela!
Cecília – Paulo!!
Paulo – O que é? Todo mundo acordou, os cachorros estão latindo...
Cecília – Isso é um absurdo!
Paulo – O que?
Cecília – Você está maluco?
Paulo – Fez um esporro bonito! Ecoou por toda a cidade! Eu sou o campeão!! [rindo muito] Que ótimo eu ter comprado esses foguetes naquele dia! Que ótimo! Puta merda, foi um barato! [rindo muito] Que barato meu Deus do céu! Que loucura! Acho que me libertou de coisas pra caralho, soltar esse foguete!
Cecília – Fica um pouquinho aqui comigo que eu estou nervosa.
Paulo – Por que você ta nervosa? É alguma premonição, alguma coisa assim?
Cecília – Nããão, Paulo, é porque foi um dia muito pesado.
Paulo – Ah, graças a Deus! Porra, isso foi uma libertação, Cecília. Solta um foguete que você também vai ficar tranqüila, imediatamente. Solta na janela daqui.
Cecília – Não! Quem ouvir o barulho vai ver de onde veio. Esquece esse negócio de foguete. Fica um pouquinho comigo, fica?
Paulo – [ri muito] Que barato! Duas horas da manhã, um foguete comemorando meu aniversário, as estrela enchendo o céu. Ai, meu Deus do céu! Muito obrigado! Vou disparar mais fogos pela cidade! [barulho de rojões explodindo]
Cecília – Paulo! Os porteiros de todos os prédios vão ver que é daqui.”
“Ontem fui com a mulher mais velha da zona – e a mais velha com quem já dormi em toda a minha vida (eu não trepei, paguei apenas para olhar). O seio parecia um saco sem nada dentro e ela ficava na minha frente, nua, passando a mão na boceta. Eu a olhava sem compreender por que ela me inspirava piedade e respeito ao mesmo tempo. Ela era pura, extremamente carinhosa e profissional, mas era uma mulher muito velha, ninguém pode imaginar quanto. Talvez uns 70 anos. (...) Trabalha das 18 às 23 horas, depois toma um ônibus, vai para casa e onde mora é uma velhinha respeitável. Ninguém diz, meu Deus! Eu não posso me lembrar dela nua porque me dá uma tremedeira e uma mistura muito grande de sentimentos. Esta velhinha jamais vai sair da minha cabeça. Muito estranho.”
“Já estava de novo instalado na casa dos pais e a peça continuava em cartaz, quando o diabo da homossexualidade decidiu tentá-lo mais uma vez. Agora a iniciativa não partiu dele, mas dde um ator de cerca de trinta anos que também trabalhava na peça. Na verdade, os dois só havia trocado algumas palavras e olhares, mas numa noite, após o espetáculo, o outro o abordou sem meias palavras:
-Quer dormir comigo lá em casa?
Nervoso e surpreso com a cantada inesperada, Paulo respondeu o que lhe veio à boca:
- Sim, quero, sim.
Passaram a noite juntos. Apesar de se lembrar, muito tempo depois, que sentira certa abjeção ao se ver trocando carícias com um homem, fez sexo com ele, penetrando-o e se deixando penetrar. Paulo voltaria para casa, no dia seguinte, ainda mais confuso do que antes. Não sentira nenhum prazer e continuava sem saber se era ou não homossexual. Meses depois voltaria à carga e de novo escolheria entre os colegas de palco o companheiro para a experiência. Na casa deste, uma quitinete em Copacabana, sentiu enorme constrangimento quando o parceiro propôs que tomassem banho juntos. O mal-estar prosseguiu noite adentro. O sol começava a entrar no pequeno apartamento quando afinal conseguiram fazer sexo – e Paulo Coelho se convenceu, de uma vez por todas, de que não era homossexual.”
“Aí, no começo de 1972, um estranho apareceu na redação – na verdade uma modesta sala no décimo andar de um edifício comercial no centro do Rio de Janeiro. Usava um terno lustroso, desses que nunca amarrotam, gravata fina e pasta de executivo na mão – e anunciou que queria falar com “o redator Augusto Figueiredo”. Na hora Paulo não associou o visitante a alguém que lhe telefonara dias antes, perguntando pelo mesmo Augusto Figueiredo. Foi o suficiente para despertar paranóias adormecidas. O sujeito tinha toda a pinta de policial, devia estar ali por causa de alguma denúncia – drogas? – e o problema é que Augusto Figueiredo não existia, era um dos nomes que usava para assinar suas matérias. Apavorado, mas tentando simular naturalidade, tentou despachar o intruso o mais depressa possível:
- O Augusto não está. Quer deixar recado?
- Não. É só com ele mesmo. Posso sentar e esperá-lo?
Confirmado, o homem era mesmo um tira. Sentou-se a uma mesa, pegou um exemplar antigo da Pomba, acendeu um cigarro e passou a ler, com ar de quem não estava com a menor pressa. Uma hora depois continuava lá. Havia lido todos os números velhos da revista, mas não dava sinais de que pretendia ir embora. Paulo lembrou-se da lição adquirida durante os saltos sobre a ponte, na infância: a melhor maneira d diminuir o sofrimento é enfrentar o problema no nascedouro. Decidiu contar logo a verdade para o policial – tinha absoluta certeza de que se tratava de um policial. Antes, porém, tomou o providente cuidado de vasculhar as gavetas da redação e certificar-se de que ali não restava nem um fragmento de beata, nome dado às guimbas de cigarros de maconha. Tomou coragem e, piscando muito, confessou que mentira:
- O senhor me desculpe, mas não existe nenhum Augusto Figueiredo aqui. Quem escreveu o artigo fui eu, Paulo Coelho. Qual foi o problema?
O visitante abriu um largo sorriso e dois braços compridos, como se oferecesse um abraço, e falou com forte sotaque baiano:
- Mas então é com você mesmo que eu quero falar, rapaz! Muito prazer, meu nome é Raul Seixas.”
“Paulo não fala os nomes do Paraguai, do ex-presidente Fernando Collor (...) Corta caminho sempre que vê uma pena de pombo na calçada, jamais passando por cima dela. Um de seus amigos (...) é testemunha de que essa esquisitices do escritos são antigas. Ele se lembra de certa noite, no começo dos anos 70, os dois saiam juntos de um bar do Rio de Janeiro quando Paulo de repente o agarrou pelo braço, atravessou a rua, puxando-o imprudentemente por entre os veículos, até achar uma árvore (a superfície de madeira mais próxima) e bater nela três vezes, sofregamente. Quando o intrigado Pepe pediu um explicação, ele confidenciou:
-Acabei de ver uma mulher grávida falando num telefone público. Isso atrai energias negativíssimas."
Algumas críticas engraçadas:
“O autor escreve muito mal. Não sabe usar a crase, emprega muito mal os pronomes, escolhe aleatoriamente as preposições, ignora coisas simples como a diferença entre os verbos ‘falar’ e ‘dizer’”.
“O que ele talvez devesse anunciar com mais galhardia é que faz chover. Pois Paulo Coelho faz mesmo – na horta dele.”
“O Alquimista é desses livros que, quando a gente larga, não consegue mais pegar.”
Adoro biografias, independente do que a pessoa fez na vida. Se teve uma vida interessante e contribuiu para a história, me interessa. No caso de Paulo Coelho, a vida que é contada no livro é interessantíssima, e a contribuição a que me refiro diz respeito às músicas de Raul Seixas, e não aos seus livros esotéricos de auto-ajuda. Na verdade, até então eu não tinha uma opinião formada sobre a obra de Paulo Coelho. Apesar de já ter lido três de seus livros (“O Diário de um Mago”, “As Valkírias” e “Veronika decide morrer”), eu não podia dar minha opinião sobre eles, já que suas leituras aconteceram na adolescência, nebulando (na verdade anulando) minha memória, e mesmo que lembrasse acho arriscado dar opiniões de uma época de formação, quando minhas idéias estavam nascendo e minhas experiências literárias eram quase nulas. Só me lembrava que gostava, mas a última leitura havia sido há dez anos, aos 16 aninhos. Foi o suficiente para pegar na estante alguns livros e dar uma folheada e me certificar que a opinião da crítica não é nada injusta: os livros são uma merda mesmo! Mesmo assim, tenho gratidão por Paulo Coelho, primeiro por seus livros representarem a fase em que eu comecei a ler livros “de adulto”, ou seja, seus livros me incentivaram para o mundo da leitura, e depois porque vi uma entrevista em que ele recomendava “Trópico de Câncer”, de Henry Miller, dizendo que o livro havia revolucionado sua vida. Depois disso procurei o livro, li e também revolucionou minha vida (agora sim eu realmente entrava no mundo dos livros “de adulto”), mas hoje penso: como é que alguém que se inspira em Henry Miller pode se tornar um escritor tão ruim?
“O Mago” foi escrito por Fernando Morais, excelente escritor de quem eu já tinha lido o fantástico “Corações Sujos”. Acho que é a primeira vez na história que surge uma biografia de um escritor em que o biógrafo é melhor do que o biografado. Além de sua escrita leve, dinâmica e muitas vezes engraçada e irônica, Morais mostra que promoveu uma extensa pesquisa sobre a vida de Paulo Coelho, utilizando fotos, memórias alheias e documentos oficiais (contratos, laudos médicos, ficha no DOPS), mas sobretudo um baú onde Paulo Coelho guardava um diário desde sua adolescência, que ele planejava que fosse queimado depois de sua morte, mas que mudou de idéia (talvez pelas cifras prometidas pela editora) e liberou para o biógrafo.
Fernando Morais apresenta uma vantagem e uma desvantagem marcantes neste livro. A vantagem é que não escreveu um livro apologético, tentando valorizar o escritor, mas mostrou lados obscuros dele em detalhes. Parece até que a biografia foi feita sobre alguém já morto, o que evitaria constrangimentos, e isso eu tenho que admirar em Paulo Coelho: ele foi contra Roberto Carlos na confusão provocada pela publicação de sua biografia, e aparentemente não interferiu em nada escrito no livro. Morais também não poupa as pessoas que se relacionaram com ele, mas a desvantagem de sua escrita é que a vantagem desaparece num certo ponto do livro. A partir do momento em que se junta a Cristina, sua atual mulher, alguns detalhes, como as peripécias sexuais desaparecem, e muito de sua vida após cerca de 1990 deixa de ser interessante, justamente por escassearem os podres. Me parece que aí o autor amarelou, ficou com medo de ofender a mulher dele, não sei. Mas o livro não perde a graça por completo, pois é nesta parte que aparecem as críticas aos livros de Paulo Coelho, e mostra como ele foi escroto com seus contratos, seus lançamentos e sua candidatura à ABL.
“O Mago” é uma leitura muito divertida, e diria até instrutiva, para que as pessoas conheçam melhor quem é o "mago" por trás das belas colunas de jornais de grande circulação que iluminam as semanas de donas de casa de todo o país. Afaste seus preconceitos e esqueça o lixo literário produzido por Paulo Coelho: "O Mago" é um livro que vale a pena ler.
Editora: Planeta
Páginas: 632
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *
Alguns dos “melhores momentos” do livro:
“Cissa foi acordada às duas da manhã por um estrondo assustador, como se uma bomba tivesse explodido dentro da casa. Levantou-se apavorada e deu com o marido na sala do apartamento, com um rojão queimado na mão. Devidamente abastecido de um bom baseado, ele decidira festejar seu aniversario e estava explodindo rojões para o céu, para desespero da vizinhança. Tudo, claro, registrado par a posteridade pelo gravador:
Paulo – Agora é 1:59 do dia 24 de agosto de 1976. Estou completando 29 anos. Vou soltar um foguete comemorando quem sou eu e vou gravar o barulho. [ruído do estouro do foguete]. Que barato! As pessoas vieram pra janela!
Cecília – Paulo!!
Paulo – O que é? Todo mundo acordou, os cachorros estão latindo...
Cecília – Isso é um absurdo!
Paulo – O que?
Cecília – Você está maluco?
Paulo – Fez um esporro bonito! Ecoou por toda a cidade! Eu sou o campeão!! [rindo muito] Que ótimo eu ter comprado esses foguetes naquele dia! Que ótimo! Puta merda, foi um barato! [rindo muito] Que barato meu Deus do céu! Que loucura! Acho que me libertou de coisas pra caralho, soltar esse foguete!
Cecília – Fica um pouquinho aqui comigo que eu estou nervosa.
Paulo – Por que você ta nervosa? É alguma premonição, alguma coisa assim?
Cecília – Nããão, Paulo, é porque foi um dia muito pesado.
Paulo – Ah, graças a Deus! Porra, isso foi uma libertação, Cecília. Solta um foguete que você também vai ficar tranqüila, imediatamente. Solta na janela daqui.
Cecília – Não! Quem ouvir o barulho vai ver de onde veio. Esquece esse negócio de foguete. Fica um pouquinho comigo, fica?
Paulo – [ri muito] Que barato! Duas horas da manhã, um foguete comemorando meu aniversário, as estrela enchendo o céu. Ai, meu Deus do céu! Muito obrigado! Vou disparar mais fogos pela cidade! [barulho de rojões explodindo]
Cecília – Paulo! Os porteiros de todos os prédios vão ver que é daqui.”
“Ontem fui com a mulher mais velha da zona – e a mais velha com quem já dormi em toda a minha vida (eu não trepei, paguei apenas para olhar). O seio parecia um saco sem nada dentro e ela ficava na minha frente, nua, passando a mão na boceta. Eu a olhava sem compreender por que ela me inspirava piedade e respeito ao mesmo tempo. Ela era pura, extremamente carinhosa e profissional, mas era uma mulher muito velha, ninguém pode imaginar quanto. Talvez uns 70 anos. (...) Trabalha das 18 às 23 horas, depois toma um ônibus, vai para casa e onde mora é uma velhinha respeitável. Ninguém diz, meu Deus! Eu não posso me lembrar dela nua porque me dá uma tremedeira e uma mistura muito grande de sentimentos. Esta velhinha jamais vai sair da minha cabeça. Muito estranho.”
“Já estava de novo instalado na casa dos pais e a peça continuava em cartaz, quando o diabo da homossexualidade decidiu tentá-lo mais uma vez. Agora a iniciativa não partiu dele, mas dde um ator de cerca de trinta anos que também trabalhava na peça. Na verdade, os dois só havia trocado algumas palavras e olhares, mas numa noite, após o espetáculo, o outro o abordou sem meias palavras:
-Quer dormir comigo lá em casa?
Nervoso e surpreso com a cantada inesperada, Paulo respondeu o que lhe veio à boca:
- Sim, quero, sim.
Passaram a noite juntos. Apesar de se lembrar, muito tempo depois, que sentira certa abjeção ao se ver trocando carícias com um homem, fez sexo com ele, penetrando-o e se deixando penetrar. Paulo voltaria para casa, no dia seguinte, ainda mais confuso do que antes. Não sentira nenhum prazer e continuava sem saber se era ou não homossexual. Meses depois voltaria à carga e de novo escolheria entre os colegas de palco o companheiro para a experiência. Na casa deste, uma quitinete em Copacabana, sentiu enorme constrangimento quando o parceiro propôs que tomassem banho juntos. O mal-estar prosseguiu noite adentro. O sol começava a entrar no pequeno apartamento quando afinal conseguiram fazer sexo – e Paulo Coelho se convenceu, de uma vez por todas, de que não era homossexual.”
“Aí, no começo de 1972, um estranho apareceu na redação – na verdade uma modesta sala no décimo andar de um edifício comercial no centro do Rio de Janeiro. Usava um terno lustroso, desses que nunca amarrotam, gravata fina e pasta de executivo na mão – e anunciou que queria falar com “o redator Augusto Figueiredo”. Na hora Paulo não associou o visitante a alguém que lhe telefonara dias antes, perguntando pelo mesmo Augusto Figueiredo. Foi o suficiente para despertar paranóias adormecidas. O sujeito tinha toda a pinta de policial, devia estar ali por causa de alguma denúncia – drogas? – e o problema é que Augusto Figueiredo não existia, era um dos nomes que usava para assinar suas matérias. Apavorado, mas tentando simular naturalidade, tentou despachar o intruso o mais depressa possível:
- O Augusto não está. Quer deixar recado?
- Não. É só com ele mesmo. Posso sentar e esperá-lo?
Confirmado, o homem era mesmo um tira. Sentou-se a uma mesa, pegou um exemplar antigo da Pomba, acendeu um cigarro e passou a ler, com ar de quem não estava com a menor pressa. Uma hora depois continuava lá. Havia lido todos os números velhos da revista, mas não dava sinais de que pretendia ir embora. Paulo lembrou-se da lição adquirida durante os saltos sobre a ponte, na infância: a melhor maneira d diminuir o sofrimento é enfrentar o problema no nascedouro. Decidiu contar logo a verdade para o policial – tinha absoluta certeza de que se tratava de um policial. Antes, porém, tomou o providente cuidado de vasculhar as gavetas da redação e certificar-se de que ali não restava nem um fragmento de beata, nome dado às guimbas de cigarros de maconha. Tomou coragem e, piscando muito, confessou que mentira:
- O senhor me desculpe, mas não existe nenhum Augusto Figueiredo aqui. Quem escreveu o artigo fui eu, Paulo Coelho. Qual foi o problema?
O visitante abriu um largo sorriso e dois braços compridos, como se oferecesse um abraço, e falou com forte sotaque baiano:
- Mas então é com você mesmo que eu quero falar, rapaz! Muito prazer, meu nome é Raul Seixas.”
“Paulo não fala os nomes do Paraguai, do ex-presidente Fernando Collor (...) Corta caminho sempre que vê uma pena de pombo na calçada, jamais passando por cima dela. Um de seus amigos (...) é testemunha de que essa esquisitices do escritos são antigas. Ele se lembra de certa noite, no começo dos anos 70, os dois saiam juntos de um bar do Rio de Janeiro quando Paulo de repente o agarrou pelo braço, atravessou a rua, puxando-o imprudentemente por entre os veículos, até achar uma árvore (a superfície de madeira mais próxima) e bater nela três vezes, sofregamente. Quando o intrigado Pepe pediu um explicação, ele confidenciou:
-Acabei de ver uma mulher grávida falando num telefone público. Isso atrai energias negativíssimas."
Algumas críticas engraçadas:
“O autor escreve muito mal. Não sabe usar a crase, emprega muito mal os pronomes, escolhe aleatoriamente as preposições, ignora coisas simples como a diferença entre os verbos ‘falar’ e ‘dizer’”.
“O que ele talvez devesse anunciar com mais galhardia é que faz chover. Pois Paulo Coelho faz mesmo – na horta dele.”
“O Alquimista é desses livros que, quando a gente larga, não consegue mais pegar.”
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