segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Cidade do Sol - Khaled Hosseini


É notório que, após os ataques de 11 de setembro, o mundo ocidental resolveu olhar “com mais carinho” para o Oriente Médio e o Islã. Os cidadãos médios começaram a se interessar por este tema antes ignorado, sobretudo o público norte americano, que tentava (e ainda tenta) compreender o seu outro, surgindo então uma moda. De lá pra cá, uma enxurrada de criações artísticas inundou o mercado mundial, de filmes a livros. Alguns deles se salvam, mas boa parte é uma tremenda porcaria. As exceções geralmente ficam situadas na esfera produtiva do Irã, lembrando filmes recentes muito bons como Persépolis e Fora do Jogo, e um livro que me chamou a atenção e que pretendo ler futuramente chamado Lendo Lolita em Teerã. Porém, junto com estas beldades vieram obras fracas como O caminho de Kandahar e Osama (mais apelação que isso só se o filme se chamasse bin Laden mesmo...). E pode acrescentar aí também o livro A cidade do sol.

Na verdade, este é o tipo de livro que não me interessa nem um pouco, já que tenho uma certa antipatia por best-sellers. Não que eu tenha raiva porque o livro vende muito, inclusive estou lendo o livro 1808, que no momento está há quase 30 semanas na lista dos mais vendidos, e estou gostando. O problema é quando o estilo é best-seller, quando se percebe que o autor está escrevendo para um idiota ler, entender e se entreter efemeramente, e consequentemente vender que nem pastelaria chinesa. Isto posto, você deve estar se perguntando: “Porque você leu isso então?”. Resposta: pressão familiar. Quem me emprestou o livro foi meu pai, um apreciador de best-sellers, e a mesma pessoa que me empurrou O Código da Vinci na época de sucesso. Só que dessa vez ele me garantiu que o livro era excelente, e eu acreditei...

O livro começa mal, numa narração em terceira pessoa batidíssima, com uma estrutura “surpreendente”: primeira parte, a história de Mariam, uma mulher afegã que tinha uma ótima vida e passa a sofrer horrores nas mãos de um homem muçulmano tradicionalista. Segunda parte, a história de Laila, uma mulher afegã que tinha uma ótima vida e passa a sofrer horrores nas mãos de um homem muçulmano tradicionalista (o mesmo citado acima). Terceira parte, que surpresa, as histórias das sofredoras coincidem!, e passam a sofrer mais ainda por causa do malvado talibã... Imaginem o drama que se desenrola nas 364 páginas do livro. É violência doméstica pra lá, bomba pra cá, amor partido aqui, opressão masculina ali na esquina... Tudo sem o menor talento literário.

Quando não gosto de um livro, paro de ler. Já fiz isso várias vezes, lembrando no momento de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, e Cem anos de Solidão, de García Márquez. Quando não gosto de um filme, paro de ver ou durmo. Isso então eu já perdi a conta. Lendo A cidade do sol, tive vontade de parar, mas não fiz para não deixar meu pai sem graça, ele gostou tanto do livro que até comprou outro e deu para a minha avó ler (e ela também está odiando, mas também vai ler em consideração). Mas só a consideração que tenho por meu pai não ia ser suficiente. O outro motivo que permitiu a leitura até o final foi a extrema simplicidade da escrita de Khaled Hosseini, pré-requisito básico para se vender muitos livros. O autor tenta em vão inserir partes descritivas que não é qualquer um que consegue, muito menos alguém sem talento, o que permite a leitura rápida pulando vários parágrafos de encheção de lingüiça. Eu pensei em citar Victor Hugo e a segunda parte de Os Trabalhadores do Mar, só para efeito de comparação, mas seria um sacrilégio comparar um jogador da seleção de 70 com um da seleção da Nova Zelândia. Ou do Afeganistão, se tivesse uma seleção. Para se ter uma idéia, eu lia este livro em três dias (não consecutivos, seria demais), um deles numa fila para abrir uma conta em banco, o que mostra a “profundidade” da prosa e a enorme necessidade de concentração. Acho que a única coisa que salva o livro são passagens da história do Afeganistão, que de tão superficiais não têm risco de estarem muito fantasiosas. Não fosse isso seria considerado “muito ruim” ao invés de “ruim”.

Não conheço detalhes sobre o autor desta “pérola”, mas pelo que li na orelha do livro ele se mudou para os EUA em 1980. Mas escreve com a autoridade de quem passou todos os infortúnios da história do Afeganistão. Francamente!

Recomendo A cidade do sol como leitura de férias para jovens reprovados na escola. Mas só os que fizeram mal-criação durante o ano.

Editora: Nova Fronteira
Páginas: 364
Disponibilidade: livrarias, farmácias, supermercados, etc.
Avaliação: *

Livro Digital dessa porcaria

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