Fui atraído pela viagem de Théo por ter ouvido falar sobre o que se tratava o livro: um garoto nerd francês de 14 anos descobre que tem uma doença grave e que lhe resta pouco tempo de vida, quando aparece sua tia que vive no exterior e lhe carrega para uma viagem pelo mundo para conhecer todas as principais religiões do planeta. Vale dizer que ela é milionária, pois em questão de meses os dois visitam Israel, Egito, Itália, Índia, Indonésia, Japão, Senegal, República Tcheca, Estados Unidos, Rússia e até o Brasil. Haja dinheiro!
A trama é boba, o desenrolar idiota (e piora quando a autora começa a meter fantasia sobrenatural no meio – eu esperava algo mais cético) e o final é absolutamente previsível. Contudo, não é isso que interessa em “A Viagem de Théo”, que na época de seu lançamento foi um best-seller, o que tira a possibilidade de algo mais ácido. O que me fez procurar o livro e ler suas 625 páginas foi a questão das religiões em si. Além de ser rica, sua tia também é uma pessoa muito influente, pois em cada lugar que eles passam ela é amiga de algum representante da religião dominante do local, que explica pacientemente todos os seus preceitos religiosos e conta a história da religião e do país em questão. Isso é bacana.
Catherine Clément aborda não só as religiões de mais adeptos do mundo (budismo, confucionismo, taoísmo, judaísmo, cristianismo e islã) como também as minoritárias e as particularidades de cada uma, como os diversos ramos do cristianismo, por exemplo. No Brasil, adivinhe qual foi a pedida? Macumba*, é claro! Para tanta religião, a autora precisou de muitas páginas, e ao que parece precisava de até mais. É que quando vai chegando no final do livro, ela começa a passar pelas religiões que restaram bem rapidinho, enquanto no início ela trabalha melhor a questão. Ao que parece, a autora deve ter passado os originais para sua agente aos poucos, e quando chegou lá pela página quinhentos e tanto e ainda faltava muita coisa, ela deve ter sido repreendida: “Querida, lembre-se que isto é um best-seller, pelas pesquisas de mercado vamos perder 37% das vendas se o livro tiver mais de 600 páginas!”. Passou um pouquinho, mas não acredito que tenha interferido nas vendas, há uns dez anos atrás ele fazia muito sucesso.
Recomendo “A viagem de Théo” para quem quer conhecer melhor um pouquinho de cada religião do mundo de forma introdutória e agradável, mas não sugiro sua compra, pois não vale o alto preço que custa (mais de 50 reais) e pode ser facilmente encontrado em bibliotecas públicas, como eu fiz, e de repente até em sebos.
*licença poética. Eu sei que algumas pessoas podem entender o termo macumba como pejorativo, mas por favor, compreendam que comprometeria o texto substituir a palavra por algo como "religiões afro-brasileiras, como candomblé e umbanda". Eu tenho umbandistas na minha família e me sinto à vontade de utilizar a palavra macumba sem nenhum sentido ofensivo, já que eles mesmos também a utilizam sem se ofenderem. Só pra constar antes da chegada da patrulha ideológica.
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 625
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *
Livro Digital
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