segunda-feira, 14 de julho de 2008

*Quadrinhos* Batman - edição brasileira 1988-1989



Me entristece muito ver como os quadrinhos estão hoje: caros e, de modo geral, péssimos. Nas bancas, o mais barato que se encontra são gibis Marvel e DC, R$6,90 por cem páginas, com histórias sonolentas e desenhos medíocres. Por isso que há anos não compro nada, leio escaneados na internet, em parte por curiosidade de saber como anda, em menor grau para garimpar as poucas coisas boas que saem nos States, mas majoritariamente para me sentir aliviado ao pensar “que bom que não gastei dinheiro com esta merda!”.

Mas nem sempre foi assim. Bons tempos em que os gibis eram realmente gibis, em formato pequeno, com papel ruim, impressão tosca, mas em contrapartida baratos e muito divertidos. Hoje, o gibi vende menos e as editoras têm que encarecer para tirar o prejuízo, e como eles ficam mais caros, menos gente compra, como eu, mas as editoras acham que este é o melhor caminho, então... Eu é que não gasto o meu assim, prefiro perambular por sebos e caçar preciosidades para minha antiga coleção, como as revistas antigas do Batman.

O Homem-Morcego já foi publicado aqui no Brasil por diversas editoras, mas na minha época era a Editora Abril que monopolizava os quadrinhos Marvel e DC (hoje é a Panini). Foram lançadas diversas séries intituladas Batman pela Editora Abril, mas a melhor de todas foi a segunda. Lançada entre setembro de 1987 e dezembro de 1988, teve apenas dezesseis edições, mas apesar da pouca quantidade, esta pequena série é objeto de veneração para mim até hoje.

Logo no primeiro número, foi apresentada a saga “Batman: Ano Um”, de Frank Miller, autor de Sin City, 300 de Esparta e da época de ouro do Demolidor, e David Mazzuchelli, desenhista com um estilo adulto, sombrio, misterioso. Em poucas palavras, “Ano Um” é considerado não apenas uma das melhores histórias de Batman, mas um momento de mudança radical nos quadrinhos, que perdiam sua ingenuidade para dar lugar a temas e estilos cada vez mais sombrios na década de 1980. Ao final desta saga, as histórias continuam muito bacanas e com passagens importantes, como o surgimento do segundo Robin, Jason Todd, que algum tempo depois seria assassinado pelo Coringa e se tornaria uma grande trauma na vida de Batman (há alguns anos atrás, a DC, editora que detém os direitos do personagem, lamentavelmente “ressuscitou” o mesmo Robin, para variar...). Ademais, alguns números da revista contaram com a arte de desenhistas importantes como Alan Davis (na época que seus desenhos eram novidade e ainda não tinha começado a se fazer enjoativos) e, na última edição, Jim Aparo, na minha opinião o melhor desenhista de Batman de todos os tempos.

Aqui no Brasil, quase sempre as revistas eram (e são) completadas com outras histórias de personagens que não têm potencial para vender uma revista com seu nome, mas que nem por isso deixam de ser interessantes. Logo no primeiro número, recebemos de presente uma história do Monstro do Pântano de Alan Moore, a lenda viva (melhor autor de todos os tempos, pai de Liga Extraordinária, Do Inferno, Watchmen, só para citar obras suas que viraram filme). Nas edições seguintes, pudemos ler histórias fantásticas do Sombra, desenhadas por Bill Sienkiewicz, artista estranhíssimo, com um traço sujo, sombrio, diria até surrealista, que na época eu não entendia e não gostava, mas que hoje admiro bastante. E também tinha as histórias do Questão, também de tema nada infantil.

Uma atração à parte são as propagandas da época: o jogo da Estrala “Vira Monstro Vira Herói” (com um bonequinho dizendo “Não, estou virando um monstro!”), a pilha Duracell vestida de Rambo, a coleção de bonecos do He-Man, a lata antiga do Nescau, o Guaraná Brahma...

Depois destes 16 meses, a revista foi cancelada, e o Batman voltou na terceira série, com formato americano (maior que o gibi) e só com duas histórias, todas do Batman, sem as histórias auxiliares. Esta também seria cancelada depois de 29 meses para dar lugar a outras séries. A segunda série de Batman pode ser encontrada sem muita dificuldades em sebos e lojas especializadas. Eu tenho a minha lá completa, e sempre que bate a saudade...


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