segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Solaris - Stanislaw Lem

No futuro, entre as inúmeras conquistas espaciais da humanidade está a descoberta do planeta Solaris, desabitado e cuja superfície é um oceano. Seria apenas um entre tantos planetas prestes a ser estudado e desvendado pela mente humana, porém o fato de Solaris resistir a forças que naturalmente teriam provocado sua destruição leva a um impasse entre os cientistas. Existe uma única estação de estudos em Solaris, e mesmo após décadas de estudos, ninguém consegue sequer uma teoria amplamente aceita sobre o segredo do planeta: o oceano seria um ser vivo, inetligente, capaz de determinar sua rota no cosmo e evitar sua destruição?

O problema de Solaris seria menor se não houvesse tantas dificuldades nas tentativas de estudos in loco. Desde o princípio ocorreram acontecimentos estranhos, comportamentos dúbios de profissionais experientes que viveram na estação e alguns acidentes trágicos. Em determinado momento, Kris Kelvin, um cientista e psicólogo especialista em solarística, é enviado para o planeta a fim de auxiliar três pesquisadores que lá permanecem em missão, Snow, Sartorius e Gibarian, aparentemente afetados pela atmosfera venenosa do planeta. Assim começa Solaris, num clima de terror psicológico ao estilo Alien, num local bem distante do conforto da Terra, claustrofóbico e sem saída como a Nostromo daquele filme, mas pelo menos nesse caso o espectador sabe o que é que se esconde nos cantos mal iluminados. Em Solaris não, e isso me causou medo e até um pesadelo durante a leitura.

Apesar de todo esse clima do início, Solaris não é um livro propriamente de terror, mas a atmosfera sombria ajudar a manter no leitor o estado de espírito que o autor tramou para seu protagonista, alguém que chega numa estação num planeta enigmático e nada encontra além de um ambiente desorganizado e pessoas reclusas aparentemente loucas. É uma ficção científica, podendo até ser classificada como hard - livros onde o autor explora profundamente aspectos técnicos da ciência, ao contrário das ficções científicas soft, nas quais as divagações sobre aspectos sociais são mais proeminentes -, mas não é aí que Solaris foca. Stanislaw Lem diferencia sua obra ao lidar sobretudo com o ser humano, orgulhoso porém ridiculamente fraco diante de problemas insolúveis, tanto na ciência como em sua própria mente.

Tentando cumprir sua missão, Kelvin passa a confrontar fantasmas - reais ou ilusões? -, bem como os outros pesquisadores, numa jornada de desconfianças, vilipêndio, vergonha, culpa e aceitação. Solaris e a solarística são explicados ao longo do livro, durante os raciocínios de Kelvin na tentativa de solucionar o misterioso planeta, com tantos detalhes nas citações de obras e estudiosos do tema que parece uma área de conhecimento realmente existente. A escrita de Stanislaw Lem é diferenciada num gênero onde a imaginação se sobrepõe à qualidade da prosa descritiva, e a divagação psicológica é marcante, às vezes de forma sutil, como na apresentação de remorsos sexuais. Solaris é soberbo e essencial, e me estimula a ler outras obras deste grande autor.

Stanislaw Lem (1921-2006) era polonês, e procurava fazer uma ficção científica bem diferente da americana, a qual criticava sem trégua como escrita sem qualidade cheia de clichês. Por este motivo - e por suas constantes controvérsias com outros autores mais populares - demorou a ser aceito no mundo da ficção científica ocidental (já era o mais famoso no mundo socialista), mas posteriormente se tornou um dos autores mais lidos de todos os tempos. Solaris é seu livro mais famoso, e em 1972 foi lançado um filme soviético inspirado na obra - inspirado, pois é uma versão bem pessoal do diretor Andrei Tarkovsky, com bastantes diferenças em relação ao livro, porém nem por isso deixa de ser uma bela película. Há uma refilmagem americana de 2002, com George Clooney, que ignoro e não faço questão de conhecer.

Editora: várias
Páginas: cerca de 220
Disponibilidade: esgotado
Avaliação: * * * * *

Livro Digital


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