domingo, 11 de agosto de 2013

O Livro de Areia - Jorge Luís Borges

Depois que li Ficções de Borges, que automaticamente virou um dos três livros supremos da minha vida, me surgiu um, digamos, dilema literário em relação ao lendário autor argentino: vontade de ler outros de seus trabalhos para conhecê-lo mais detalhadamente, mas ao mesmo tempo vontade de não ler e continuar relendo sua obra-prima por tê-la como definitiva para mim. Talvez por isso tenha demorado cinco anos e muitas releituras de Ficções para que eu pegasse O Livro de Areia para ler.

Fica óbvio que, comparado a Ficções, nenhum outro livro menor da bibliografia de Borges pode ter uma resenha e uma avaliação tão entusiástica como a anterior. O Livro de Areia é composto por 13 contos (o último deles dando nome ao livro), nenhum deles com a genialidade da lógica e dos estratagemas observados em Ficções. Entretanto, isso não tira a qualidade da escrita de Borges - mesmo sem ter as mesmas ideias geniais de antes, o autor não poderia esquecer como escrever bem, apesar de passadas três décadas. Vale lembrar que em Ficções (1944), Borges estava no auge de sua carreira de escritor, enquanto que em O Livro de Areia, escrito 31 anos depois, já estava no final de sua vida, praticamente cego, tendo ditado todos os contos. Se faltam as ideias e a originalidade de outrora, uma das características mais marcantes dos contos borgianos ainda pode ser percebida nesse livro: o ritmo, que prende o leitor do início ao fim de cada conto. Isso por si só, dadas as condições físicas e materiais adversas, faz de Borges um herói da literatura mundial - afinal, não é para qualquer um escrever o que quer que seja de qualidade sem poder enxergar o produto, reler, apagar, corrigir, reescrever, pelo menos eu penso assim.

O Livro de Areia apresenta uma certa coerência / referência entre os contos nele presentes e também com outros trabalhos anteriores. Algumas referências são citações repetidas em vários contos, notoriamente o xadrez e o mundo anglossaxônico, outras são temas sempre abordados em toda a trajetória de Borges, como por exemplo a questão da infinitude e a reavaliação de personagens históricos, além de aspectos de sua vida pessoal e de contos anteriores. Dois dos contos desse livro (Undr e O Espelho e a Máscara) são um contraponto perfeito para A Biblioteca de Babel, para mim a melhor história criada por Borges. E há também temas pouco explorados por Borges anteriormente: um conto de terror (There Are More Things) e um sobre o amor (Ulrica) que, segundo o próprio autor, é comum em sua obra poética, mas inédito na sua prosa.

Não importa se O Livro de Areia não se compara a Ficções: Borges é Borges, e independente de sua idade ou saúde sempre vai ter algo saboroso para servir seus fiéis leitores. Esse é o termo certo para O Livro de Areia: uma leitura gostosa. O próximo que me aguarda é O Aleph, o segundo de seus maravilhosos livros de contos, hierarquicamente falando.

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 112
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

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