segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cassino Royale - Ian Fleming

Esqueça o musculoso Daniel Craig, a longa jogatina de pôquer, as organizações terroristas e as cenas de ação explosivas do "007 - Cassino Royale" que foi parar nos cinemas do mundo inteiro em 2006. O livro que iniciou a série sobre o agente secreto mais famoso do mundo serviu apenas de base para o filme, já que, devido às mudanças profundas ocorridas no mundo desde a década de 1950 até hoje, seria comercialmente inviável ser muito fiel ao original.

"007 - Cassino Royale", de 1953, é uma história passada num contexto de apogeu da guerra fria, quando o grande inimigo do ocidente era o comunismo. Se no filme recente o vilão Le Chiffre era um banqueiro de organizações terroristas, no original ele é o tesoureiro de uma organização secreta comunista que, após perder o dinheiro investido em prostituição, busca desesperadamente reavê-lo antes que seja morto pela Smersh - agência soviética encarregada de dar corretivos em traidores e incompetentes. Para Le Chiffre, a maneira mais rápida de conseguir o montante é através do bacará, jogo de cartas de apostas fortes no Cassino Royale - no filme o jogo é o pôquer, mais popular nos dias de hoje.

O livro de Ian Fleming, o primeiro da série, apresenta o despertar de James Bond, sua promoção a agente "00" (o sétimo do grupo de agentes que têm licença para matar) e sua inexperiência em lidar tanto com situações que pedem sutileza ao invés de força bruta quanto nas relações com as "bond girls". Com a primeira delas, Vesper, o espião se relaciona de forma diferente das demais, e o final é semelhante ao do filme (exceto por como a "vaca" morre, já que no filme acontece de maneira mais apoteótica), com o machão aprendendo a lição de como tem que encarar os relacionamentos na sua profissão a partir de então.

As diferenças entre filme e livro não se resumem ao contexto histórico ou às modificações para dar mais apelo comercial à história. Para quem busca a mesma ação encarada por Craig, Brosnan e Connery, o livro vai ser decepcionante. Aquela tradicional cena longa de tirar o fôlego presente na maioria dos filmes da série não existe no livro, e a pancadaria dá lugar a descrições, técnicas de espionagem e contraespionagem e estratégia. Particularmente em "Cassino Royale", as partidas de bacará se desenvolvem por páginas e mais páginas, perdendo até um pouco do sentido para quem, como eu, não conhece o jogo, já que as jogadas são bastante detalhadas.

Para quem não sabe, Ian Fleming trabalhou numa agência de inteligência britânica, e quando largou a profissão começou a escrever a série 007 baseando-se nas suas experiências. Cassino Royale, por exemplo, se baseou supostamente em temporadas pouco proveitosas com jogatinas em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. A personagem "M", que no livro é um homem, foi inspirada em um superior seu durante o trabalho para o serviço secreto da marinha. Já James Bond teria sido criado depois de Fleming ter conhecido Dusko Popov, um agente duplo com quem Fleming teve contato no cassino em Portugal, mas o nome do espião não tem nada a ver com isso: James Bond é o nome de um autor de um livro sobre ornitologia que Fleming lia na Jamaica, sua casa por longos anos.

"007 - Cassino Royale" foi uma bela surpresa por causa de todas essas diferenças com o filme, e uma boa iniciação nos livros da série. Nem melhor, nem pior do que o filme, agradou de outro modo.

Editora: Record (edição antiga da Civilização Brasileira)
Páginas: 204
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

3 comentários:

  1. Agora pega pra ver o "Casino Royale", de 1967.

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  2. Com o seu ídolo, Peter Sellers, e com o cidadão Orson Welles como Le Chiffre, deve ser uma comédia de primeira. Tu não tem aí não?

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  3. Aquela serie americana de 1954, com o finado ator Barry Nelson, acabou na obscuridade. - Marcio Silva de Almeida

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