domingo, 5 de julho de 2009

O Anticristo - Friedrich Nietzsche


Se eu pudesse juntar um time de futebol só com figuras contrárias à moral e à religião de sua época (como fizeram os comediantes do Monty Pyton com os filósofos gregos contra alemães, com Confúcio no apito e os santos filósofos nas bandeirinhas), eu armaria um meio-de-campo com Voltaire e Marquês de Sade na contenção e Nietzsche armando o ataque para Sartre e Dawnkins (quem sugerir a contratação de Toninho do Diabo para a lateral esquerda merece ser banido do futebol e da filosofia!). Eu daria a camisa 10 para o controverso filósofo alemão pela sua emblemática obra "O anticristo".

A obra de Friedrich Nietzsche é caracterizada por normalmente não apresentar idéias fechadas em um único livro, sendo elas trabalhadas continuamente em diversas obras. Assim é o ataque de Nietzsche à religião, inicialmente apresentado em "A genealogia da moral" (este, por sua vez, uma continuidade às ideias do livro "A gaia ciência"), mas radicalizado em "O Anticristo". Por esta razão, o pensamento de Nietzsche, apesar de não ser muito difícil, não pode ser compreendido com a leitura de apenas um de seus livros. Este foi o primeiro livro de Nietzsche que li, e para entendê-lo completamente precisei de leituras de apoio.

A crítica de Nietzsche ao cristianismo baseia-se no fato desta religião impedir a formação do Übermensch, o super-homem, uma "evolução" que nasce da vontade de poder e rechaça a moral decadente. Piedade, compaixão e humildade seriam valores da moral dos escravos. Para o bem da humanidade, o mais fraco deveria perecer, dando lugar a este novo homem. O cristianismo rejeita o forte, o mais capaz, e abraça o mais fraco, o humilde, sendo, portanto, um empecilho à chegada do Übermensch. Este desprezo de Nietzsche pelos mais fracos se traduziu, em sua vida, na oposição ao socialismo, ao liberalismo e a tudo relativo à coletividade. Não por acaso sua doutrina serviu de base para Hitler e cia e até hoje influencia neonazistas. Só esqueceram de avisar a este pessoal o sentido da palavra anacronismo. Outro aspecto que seduz essa turma é a presença de diversas passagens antissemíticas em "O Anticristo", já que o judaísmo é a base do cristianismo.

Pode parecer estranho, mas "O Anticristo" não é uma cartilha de aviltamento a Jesus Cristo. Todas as críticas à doutrina cristã são direcionadas a quem desenvolveu a religião após a morte do messias, principalmente o apóstolo Paulo. "Já a palavra 'cristianismo' é um mal-entendido, no fundo só houve um cristão, e esse morreu na cruz." Já em "Assim falou Zaratustra", Nietzsche escreve: "Certamente aquele hebreu morreu muito cedo..., ele mesmo haveria desmentido sua doutrina se tivesse chegado à minha idade! Era suficientemente nobre para desmenti-la!"

Quem espera de "O Anticristo" um roteiro de ideias para satisfazer seu próprio ateísmo hoje em dia vai se decepcionar ou cair na mesma armadilha dos neonazistas, pois o livro faz muito mais sentido no contexto da filosofia de Nietzsche do que para nosso pensamento atual sobre a religião. Mesmo sendo pequeno, de fácil compreensão e contando com a ferina escrita de Nietzsche, só interessa a quem busca melhor compreensão sobre este interessante representante da filosofia do século XIX que até hoje influencia muita gente, não sendo uma leitura divertida ou de passatempo, com algumas partes monótonas. "O Anticristo" é de fácil acesso, existindo diversas edições para todos os gostos (a que li foi a edição espanhola da figura acima).

Editora: várias
Páginas: cerca de 120
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *

Livro Digital


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