segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Cortiço em quadrinhos - Aluísio Azevedo, Ronaldo Antonelli e Francisco Vilachã


"O Cortiço" foi um dos poucos livros de literatura brasileira que li durante a adolescência e realmente gostei. Todo aquele realismo, cheio de sexo e violência, deixando de lado toda aquela merda romântica e retratando a realidade miserável brasileira, lá pelos meus quinze anos aquilo foi a única coisa que conseguiu atrair meu interesse pelos livros "sérios". Por outro lado, a grande maioria que fui obrigado a ler me tirou o interesse em literatura brasileira por anos, e tenho certeza que promoveu o ódio incondicional à leitura em geral para sempre em muitos estudantes.

Encarei com muita simpatia a chegada às bancas da coleção da editora Escala de literatura brasileira em quadrinhos, pois é uma ótima chance para a garotada conhecer os marcos da cultura brasileira sem aprender a odiá-los - e também para marmanjos como eu que, não fosse isso, nunca voltariam a ler os tais clássicos. Ademais, está sendo uma chance de revisitar alguns dos clássicos que cheguei a ler, a começar pelo Cortiço.

Apesar da esperança depositada nessa inovação, este primeiro volume da coleção que peguei para ler foi uma decepção. Um recurso inteligente que foi desperdiçado por falta de qualidade na produção. Os desenhos de Francisco Vilachã (um dos idealizadores do projeto todo, méritos por isso) são monótonos, repetitivos, e em diversos momentos o leitor não reconhece ou confunde personagens que não apresentam diferenças físicas marcantes. O roteiro adaptado de Ronaldo Antonelli é embolado, muito corrido, e imagino que quem não leu o livro - ou que leu há muito tempo, como eu - vai se perder e perder o interesse logo. Me parece que os autores se preocuparam muito em apresentar todo o conteúdo no número limitado de páginas disponíveis e se esqueceram que os quadrinhos, antes de tudo, são arte sequencial, e não simplesmente uma narração ilustrada, como ocorre nesta versão da obra de Aluísio de Azevedo.

Dando uma olhada nos outros volumes da coleção que já foram lançados, deu para perceber que apresentam bastantes diferenças, e espero que não sejam tão decepcionantes como esta adaptação de "O Cortiço", pelo bem da literatura brasileira e pelo nome dos quadrinhos nacionais.

Editora: Escala
Páginas: 64
Disponibilidade: normal
Avaliação: * *

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