Se hoje Machu Picchu é um ícone nos destinos de viajantes do mundo inteiro, muito se deve à sua condição de cidade perdida, ou seja, que ficou longe dos olhos de quase toda a humanidade durante séculos, até ser redescoberta por Hiram Bingham em 1911. Tendo a noção de que havia feito talvez a maior descoberta arqueológica de todos os tempos, Bingham decidiu contar a peripécia em Lost City of the Incas, em 1948.
O livro se divide em três partes, que parecem três livros diferentes: a primeira é um livro de História sobre a civilização Inca, narrando seus primórdios até seus últimos dias, além de explicar aspectos fundamentais de sua cultura; a segunda parte é uma narrativa de uma viagem de aventura na selva peruana, quando o arqueólogo conta sua trajetória até encontrar a cidade perdida; o último terço se transforma num livro de arqueologia, explicando as escavações em aspectos técnicos, os resultados e a interpretação de seu trabalho. Não é só uma divisão retórica, são realmente três livros diferentes, com abordagens e resultados distintos, o que me fez me dividir em minha avaliação.
A primeira parte me pareceu bem satisfatória, uma explicação simples, sem muito academicismo, para ambientar qualquer leitor no teor do livro. A segunda foi para mim a melhor, já que sou apaixonado por viajar e ler narrativas de viagens alheias - e essa é uma narrativa bastante cativante, de um americano em contato com uma cultura bem diferente à que estava acostumado, num ambiente difícil e desconfortável. Até aí o livro anda muito bem, mas a última parte é um suplício, uma leitura enfadonha - como já era de se esperar de um texto sobre arqueologia, dada minha experiência anterior com esse tipo de trabalho.
Hiram Bingham nasceu no Avaí, e além de arqueólogo e explorador, foi político e militar. Sua façanha de ser o descobridor de Machu Picchu é contestada pelo fato de algumas pessoas já terem chegado lá alguns anos antes: um alemão na década de 1860, dois peruanos no início do século e dois missionários em 1906, além dos moradores da região. Entretanto, mesmo que essas pessoas tivessem alcançado a cidade perdida antes, o mérito de torná-la conhecida para o mundo foi de Bingham. A cidadela foi descoberta por acaso, através de um palpite de Bingham, guiado por um garotinho que conhecia a área e estava totalmente coberta de vegetação e infestada de serpentes. Hiram Bingham interpretou erroneamente o local como a última cidade dos incas que ele procurava - Ollantaitambo, que posteriormente foi descoberta em outro lugar, porém sem nenhum brilho. Machu Picchu é hoje um dos destinos de viagem mais famosos do mundo. Não tem uma visitação tão grande como o Coliseu ou Teotihuacan por causa da distância dos centros urbanos, mas ainda assim recebe uma horda de turistas, muitos deles predadores de patrimônio histórico, o que põe em risco esse legado deixado para toda a humanidade.
Encontrei esse livro numa loja em Cusco, quando viajei para conhecer Machu Picchu em 2012. É o livro mais fácil de se encontrar por lá, vendido em todos os cantos da cidade por preços bem baixos, em inglês ou espanhol - acho que é meio como uma leitura obrigatória para quem se interessa. Fora do Peru, não é difícil encontrá-lo pela internet, mas não há edição em português e dificilmente alguém vai achá-lo para vender em uma loja por aqui. Mesmo se você nunca foi a Machu Picchu, recomendo a leitura se gostar de história ou relatos de viagem. Se você já foi ou pretende ir, não deixe de ler, é obrigatório para melhor compreensão desse lugar. E se você não pretende visitar Machu Picchu, mude de ideia: é magnífico, e mesmo abarrotado de turistas de todos os tipos, ainda se consegue descobrir alguns cantos de paz e silêncio para contemplar a natureza e as ruínas de uma civilização perdida na beira de abismos sublimes.
Editora: ABC
Páginas: 252
Disponibilidade: importado
Avaliação: * * * *
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