sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Trilogia Nikopol - Enki Bilal

Nos anos 70, enquanto os quadrinhos norte-americanos de super-heróis passavam por uma ressaca criativa depois da década anterior de criações de sucesso - Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, etc. - na Europa se desenvolvia um estilo de quadrinhos de temática adulta, sofisticado, encabeçado pela revista francesa Métal Hurlant (que inspirou a criação posterior da Heavy Metal americana). Enredos de ficção científica e fantasia, acompanhados de uma arte sombria, cheia de imagens de seres bizarros com bastante violência e sexo, apresentavam ao mundo uma nova maneira de fazer quadrinhos. Uma safra de artistas talentosos surgia, dentre eles o franco-iugoslavo Enki Bilal.

Na onda recente de excelentes lançamentos da Editora Nemo, A Trilogia Nikopol é uma bela oportunidade para se entrar em contato com o trabalho de Enki Bilal e os quadrinhos europeus dessa vertente. Com um enredo de ficção científica cyberpunk, misturando viagens espaciais, deuses egípcios, robôs, animais humanizados e tramas políticas influenciadas pelo contexto da guerra fria, a história se passa entre 2023 e 2034, iniciando-se em uma Paris comandada por fascistas com uma pirâmide voadora pairando sobre a cidade em busca de combustível, enquanto uma nave de menor porte cai do espaço com Alcide Nikopol, de volta à Terra depois de décadas de exílio congelado - e após terminada a quarta guerra mundial (nuclear, diga-se de passagem). Essa é a premissa para A Feira dos Imortais (1980), o primeiro volume da trilogia, completada por A Mulher Armadilha (1986) e Frio Equador (1992).

Como se não fosse já bastante complicado esse cenário, o roteiro da Trilogia Nikopol é bem confuso, cheio de pontas soltas e passagens passíveis de interpretações. Não sei se o ato foi proposital ou se essa é realmente uma deficiência do autor, mas o resultado surpreende - tal falta de ordem causa um resultado positivo, cai bem para o clima caótico e surreal do futuro degradante imaginado por Enki Bilal - e algumas passagens são complementadas por trechos jornalísticos imaginados. Os desenhos e cores são excelentes, bem característicos do que é a arte desse estilo de quadrinhos.

Soma-se ao brilhantismo do trabalho de Enki Bilal a excelente edição lançada aqui no ano passado pela Editora Nemo, que vem cumprindo um excelente trabalho no mundo dos quadrinhos (apesar dos preços um pouco indigestos de algumas obras). Em formato grande, papel couché, capa dura e até uma edição fictícia de jornal acompanhando o álbum, a edição da Trilogia Nikopol é um deleite para os fãs brasileiros de quadrinhos, e fica a recomendação para aqueles que ainda não tiveram contato com esse tipo de livro por preconceito ou simplesmente desinteresse.

Editora: Nemo
Páginas: 184
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * * *

*Agradecimento especial ao amigo Marcelo, por ter me apresentado a este fantástico autor - uma parte que eu desconhecia de um mundo que lhe foi apresentado por mim. Espero que a troca de nossas diferentes culturas continue honesta e gentil, como você citou em sua dedicatória, até ficarmos senis de tanto ler fantasia.

Um comentário:

  1. Amigo, eu é que te agradeço por tudo ... adorei sua resenha e agradeço por você tê-la escrito.

    ResponderExcluir