domingo, 7 de setembro de 2008

Queimado queimado, mas agora nosso! - Rosely Forganes


Acho que o mercado de mapas políticos deve ser lucrativo. Ano sim, outro também, surgem novos países para serem incorporados nos atlas, e ficamos sem saber absolutamente nada sobre estes caçulas, isso quando chegamos a reconhecer sua existência. Um desses novatos é o Timor Leste, que só não é o debutante máximo porque ano passado surgiu mais alguma coisa lá pelos Bálcãs (que eu também só fiquei sabendo porque a seleção da Sérvia foi desmembrada).

No caso do Timor, ainda teve alguma repercussão na mídia brasileira, por causa da proximidade lingüística (é uma ex-colônia portuguesa) e porque foram mandados soldados do nosso exército para ajudar na reconstrução do país; mais do que isso foi ignorado por 99,9% da população brasileira, me incluindo aí. Mas este pouco que se soube ficou por conta do trabalho de pessoas como Rosely Forganes, que partiu para lá na cara e na coragem a serviço da Rádio Eldorado e passou alguns meses colhendo informações, vivenciando o sofrimento das pessoas e mandando notícias para nós. No final, todo este trabalho virou o livro “Queimado queimado, mas agora nosso! – Timor: das cinzas à liberdade”.

Para um entendimento melhor do contexto, uma rápida explanação sobre a história do Timor: uma ilha dividida ao meio, na qual a parte oriental permaneceu cerca de 4 seculos como colônia portuguesa. Em 1975, com o fim do domínio português, os timorenses do leste foram dominados pela Indonésia, senhora da parte ocidental da ilha, e assim permaneceram até 1999, quando um plebiscito decidiu pela nova independência. O problema é que a Indonésia não aceitou e iniciou um massacre, através de milícias supostamente autônomas. Neste competente trabalho jornalístico, Rosely Forganes nos conta detalhes de suas três viagens para o Timor, a primeira nos momentos finais da guerra civil, e as outras duas durante a reconstrução do país pelas forças internacionais (2000 e 2001).

A história contada é muito interessante, apresentando o contexto de toda aquela confusão e personagens reais que sofreram num país que foi praticamente todo incendiado pelas milícias. Através de sua leitura, conhecemos desde o morador mais simples de Díli (capital do país) até o maior herói nacional, o líder das forças de resistência Xanana Gusmão. Mas tamanho zelo com o pormenores, se não tornaram o livro demasiadamente grande, às vezes não acrescentaram muito, e me parece que umas duzentas páginas a menos não fariam muita diferença no objetivo, ainda mais pela grande quantidade de entrevistas transcritas. Algumas são extremamente curiosas, como a de um camarada que se diz herdeiro das famílias reais portuguesa e inglesa e da família Kennedy, e por isso tem direitos sobre as economias do Banco Mundial, mas como ele é honesto ele as cede para o povo timorense (!). Já outras não acrescentam muito, e poderiam ser omitidas.

Outra ressalva que faço à obra é a escrita da autora. Apesar de ter feito um excelente trabalho de jornalismo e ter contado uma história surpreendente e inédita para os brasileiros, Rosely Forganes não é escritora de ofício, e seu estilo é arrastado, improvisado e muito fraco, com repetições de palavras e expressões, às vezes até na mesma frase, o que geralmente cansa e torna a leitura das mais de 500 páginas ainda mais longa.

“Queimado queiamdo, mas agora nosso!” vem com um cd intitulado “Vozes do Timor”, com uma série de reportagens que foram ao ar na Rádio Eldorado, com transmissão ao vivo do Timor Leste, através de telefones de bombeiros portugueses ou do jeito que dava para a jornalista se virar. São cerca de 30 minutos de informações e depoimentos chocantes, todos presentes no livro, que como foram ouvidos antes de sua leitura, confesso, levaram este bruto escritor de blog às lágrimas.

Esta resenha é dedicada ao colega Marcelo, leitor do blog que me deu o livro como contribuição para a continuidade desta brincadeira que vai durar até o final do ano, quando eu completar o projeto de 52 (ou mais, quem sabe) livros lidos em 2008. Valeu mesmo, Marcelo! E que sirva de incentivo para outros leitores que quiserem fazer sua contribuição também, hehehe (já recebi outro livro que em breve fará parte do blog, mas quem não chora não mama).

Editora: Labortexto
Páginas: 507
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *

2 comentários:

  1. Fala, Fernando!!Agradeço a sua gentileza de me dedicar esta resenha. Bom, a julgar pelo que li e pela nota que o livro recebeu, valeu a pena. Um grande abraço.Marcelo.

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  2. Valeu sim, parceiro! Aguardo vc lá na serra nas férias pra gente trocar umas idéias.

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