Apesar do grande sucesso no meio literário e das muitas críticas elogiosas ao livro de estreia de Miguel Sousa Tavares, eu nunca tinha ouvido falar deste autor e nem tinha ideia do que tratava este livro, tendo em vista que, mesmo lendo bastante, não acompanho muito as novidades do mundo literário, pelo simples motivo: há tanta coisa essencial para ler e tão pouco tempo! Na tentativa de reverter um pouco esta deficiência em minhas leituras, tive ótimas recomendações em relação a este autor de uma pessoa que diz ter passado os dois últimos anos se dedicando intensivamente à leitura de literatura contemporânea africana ou que tratasse da África, e comprei "Equador" num sebo, para verificar o que se passa na literatura mundial hoje em dia.
A ficção histórica em questão se passa no início do século XX, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, então colônias portuguesas, no contexto da crise da monarquia portuguesa - que chegou ao fim em 1910. Luís Bernardo Valença, um bon vivant que aproveita o melhor de Lisboa com amigos e mulheres, é convocado pelo rei d. Carlos para uma missão nas ilhas equatoriais: governar as colônias com o objetivo de provar aos ingleses que lá não existe trabalho escravo e, consequentemente, evitar o boicote aos produtos portugueses. Viver numa colônia sem nenhum conforto e longe da agitada vida social a qual estava acostumado e convencer os roceiros das ilhas a modificar o sistema de trabalho em vigência há gerações, mesmo sendo famoso por ter escrito artigos criticando o sistema colonial português, esses são só os desafios iniciais do protagonista.
Ao contrário do padrão de livros desta categoria - muita ação e combates - "Equador" é uma história centrada mais nos pensamentos e sentimentos dos personagens do que nos desenrolar dos acontecimentos, e o resultado é ambíguo: longas partes monótonas onde a leitura se arrasta intercaladas por páginas onde algo realmente acontece, e por isso tão aguardadas e de leitura rápida. Tem-se a impressão inicial que a escrita de Miguel Sousa Tavares é boa e inteligente, o que realmente não deixa de ser verdade, mas com o passar do texto, o estilo rebuscado cansa e dá a impressão de pedantismo. Talvez seja isso que os críticos tenham reconhecido neste autor, ou talvez simplesmente pelo fato dele ser um intelectual famoso em seu país, onde escreve colunas em vários jornais, pois a história em si não tem nada de muito surpreendente, apesar de personagens bem trabalhados - um deles dá margem para um minilivro de 50 páginas dentro do livro, que provavelmente é a parte mais interessante da leitura.
Outro ponto positivo que tenho que considerar é a exploração de uma característica comum a todos os bons livros de ficção histórica, que não falta em "Equador": a exposição do ambiente da época em que se passa a história, particularmente o sentimento português em relação ao seu mundo colonial. Méritos para o autor que, além de desenvolver bem esta característica nos personagens, fez um eficiente trabalho de pesquisa em jornais e livros de pesquisas históricas para retratar os pormenores de Lisboa, das ilhas e da diplomacia do colonialismo.
"Equador" não é um livro ruim, mas está muito aquém do estardalhaço que se fez na época de seu lançamento (2003). Para quem ainda tem uma lista interminável de leituras desejadas, acho que suas pesadas 527 páginas podem ser remanejadas para o final da fila.
A ficção histórica em questão se passa no início do século XX, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, então colônias portuguesas, no contexto da crise da monarquia portuguesa - que chegou ao fim em 1910. Luís Bernardo Valença, um bon vivant que aproveita o melhor de Lisboa com amigos e mulheres, é convocado pelo rei d. Carlos para uma missão nas ilhas equatoriais: governar as colônias com o objetivo de provar aos ingleses que lá não existe trabalho escravo e, consequentemente, evitar o boicote aos produtos portugueses. Viver numa colônia sem nenhum conforto e longe da agitada vida social a qual estava acostumado e convencer os roceiros das ilhas a modificar o sistema de trabalho em vigência há gerações, mesmo sendo famoso por ter escrito artigos criticando o sistema colonial português, esses são só os desafios iniciais do protagonista.
Ao contrário do padrão de livros desta categoria - muita ação e combates - "Equador" é uma história centrada mais nos pensamentos e sentimentos dos personagens do que nos desenrolar dos acontecimentos, e o resultado é ambíguo: longas partes monótonas onde a leitura se arrasta intercaladas por páginas onde algo realmente acontece, e por isso tão aguardadas e de leitura rápida. Tem-se a impressão inicial que a escrita de Miguel Sousa Tavares é boa e inteligente, o que realmente não deixa de ser verdade, mas com o passar do texto, o estilo rebuscado cansa e dá a impressão de pedantismo. Talvez seja isso que os críticos tenham reconhecido neste autor, ou talvez simplesmente pelo fato dele ser um intelectual famoso em seu país, onde escreve colunas em vários jornais, pois a história em si não tem nada de muito surpreendente, apesar de personagens bem trabalhados - um deles dá margem para um minilivro de 50 páginas dentro do livro, que provavelmente é a parte mais interessante da leitura.
Outro ponto positivo que tenho que considerar é a exploração de uma característica comum a todos os bons livros de ficção histórica, que não falta em "Equador": a exposição do ambiente da época em que se passa a história, particularmente o sentimento português em relação ao seu mundo colonial. Méritos para o autor que, além de desenvolver bem esta característica nos personagens, fez um eficiente trabalho de pesquisa em jornais e livros de pesquisas históricas para retratar os pormenores de Lisboa, das ilhas e da diplomacia do colonialismo.
"Equador" não é um livro ruim, mas está muito aquém do estardalhaço que se fez na época de seu lançamento (2003). Para quem ainda tem uma lista interminável de leituras desejadas, acho que suas pesadas 527 páginas podem ser remanejadas para o final da fila.
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 527
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *
Livro Digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário