domingo, 12 de julho de 2009

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

Você conhece alguém que trocou sua alma pela beleza eterna? Eu conheço várias pessoas que já fizeram isso, e acabo de conhecer mais uma: Dorian Gray. Personagem do excelente livro de Oscar Wilde, a lamentável história do sr. Gray começa com uma sedução, a sedução de si mesmo, um jogo de vaidade que se transforma em narcisismo doentio. Durante uma festa da alta-sociedade, o pintor Basil Hallward conhece o jovem Dorian Gray e fica fascinado por sua beleza. Desenvolve-se então uma paixão platônica e o pintor toma Dorian como modelo para sua mais perfeita obra, o retrato de Dorian Gray. Paralelamente, Dorian conhece Henry Wotton que, com suas idéias sobre a beleza, estimula ainda mais o narcisismo do jovem. Obcecado, Dorian Gray troca sua alma pela beleza eterna e descobre que o resultado prático é a inexistência do envelhecimento em seu corpo pela corrupção de seus atos: para cada atitude vil de Dorian, seu retrado ganha alguma ruga ou deformidade, enquanto o seu corpo permanece o de um jovem - fato descoberto ao acaso, quando ele despreza uma pretendente que comete suicídio. A partir de então, uma trilha de maldade e loucura se desenvolve através das páginas do clássico de Oscar Wilde.

O ponto mais interessante do livro, na minha visão, foi a identificação da maldade com o belo, e não com a feiura, como geralmente este tema é apresentado desde as obras infantis. Além da óbvia discussão sobre a beleza e o que o ser humano é capaz de fazer para alcançá-la, "O Retrato de Dorian Gray" é uma crítica à alta-sociedade britânica da época vitoriana, encarnada principalmente na figura do hedonista Henry Wotton. Sociedade esta que, apesar de representar o país mais esplendoroso da época - o império onde o sol nunca se punha - fez tantos de seus súditos sofrerem. Um deles foi justamente Oscar Wilde, que na época do lançamento do livro foi perseguido por causa de seu relacionamento com outro homem, chegando até a ser preso por isso. Wilde foi submetido a trabalhos forçados e, ao sair da prisão em 1897, se mudou para Paris, onde adotou uma vida menos excêntrica e morreu de meningite três anos depois.

"O Retrato de Dorian Gray" apresenta diversas passagens homoeróticas (muito parecidas com algumas partes da obra de Platão), o que favoreceu ainda mais as acusações de sodomia que pesavam contra o autor irlandês. Como resposta aos que consideravam seu livro imoral, Wilde respondeu no prefácio da segunda edição: "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Isso é tudo". Independente da polêmica, "O Retrato de Dorian Gray" é um excelente romance (o único de Oscar Wilde, já que o restante de sua obra são contos e peças de teatro), disponível em diversas edições - desde as mais baratas coleções de clássicos até edições bilíngues - e até em audio-livro (que foi como "li"; foi minha primeira experiência com audio-livros, e gostei. Apesar de parecer ser mais fácil, requer o mesmo nível de atenção de uma leitura). Há também alguns filmes antigos baseados na obra, e um inglês que tem previsão de lançamento para este ano.

Voltando à pergunta com a qual iniciei o texto, conheço várias pessoas que vendem a alma para conseguir beleza eterna. Quantas pessoas já passaram fome na vã expectativa de ter o corpo mais bonito? Quantas mulheres já morreram na tentativa de ter seios maiores e menos flácidos? Quantas viagens, obras na casa e cursos para os filhos foram adiados por causa de caros tratamentos estéticos? Na nossa sociedade, que cultua mais o corpo do que o bem-estar, a cultura e a satisfação pessoal, "O Retrato de Doria Gray" permanecerá atual ainda por muitas gerações.

Editora: várias

Páginas: variável

Disponibilidade: normal

Avaliação: * * * * *




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