Pra falar a verdade, eu nunca tinha ouvido falar de Osugi Sakae, mas fui seduzido pelo título inusitado, característico dos livros alternativos da editora Conrad, e pelo preço baixíssimo num evento de anime em São Paulo. "Memórias de um anarquista japonês" é justamente o que o título anuncia, mas não só, pois como todas as autobiografias decentes, ultrapassa as fronteiras do narcisismo para nos apresentar uma visão de mundo, neste caso o Japão extremamente repressivo e militarizado nas décadas que precederam a invasão da China, Coréia e sudeste asiático e o ataque a Pearl Harbor.
Conhecido como "anarquista erótico", Sakae conta sua trajetória desde as primeiras lembranças até se tornar um completo anarquista na prisão. Como se pode presumir, um rebelde não se faz num ambiente agradável e livre de conflitos, então somos apresentados a um garoto que, quando fazia besteiras, buscava a vassoura para a mãe bater nele, mas alguns anos depois é expulso da escola militar após uma briga que terminou num ferimento grave causado por uma facada. Sua escrita passeia pelo deboche e humor e é razoável, mas o que vale mesmo é a descrição do Japão do início do século XX por alguém que vivenciou tudo aquilo. O cristianismo, por exemplo, que é o retrato da caretice para nós, era para os japoneses uma forma de resistência à sociedade tradicional opressiva - era radical ser católico no Japão! As memórias presentes neste livro vão até sua saída da prisão, período no qual o anarquista (que apresentava gagueira) ficou praticamente mudo e só comia arroz branco.
Osugi Sakae viveu intensamente a rebeldia, foi preso por isso, teve relações amorosas conturbadas e acabou sendo assassinado por militares em circunstâncias que chocaram a própria sociedade repressiva da época - durante um encontro de anarquistas na Europa, é preso, deportado e, chegando ao Japão, é espancado até a morte juntamente com sua mulher e um sobrinho de apenas seis anos, em 1923. Daí em diante, a violência do Estado japonês prosseguiu até que as bombas atômicas fossem lançadas em Hiroshima e Nagasaki.
Editora: Conrad
Páginas: 181
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * * *
Conhecido como "anarquista erótico", Sakae conta sua trajetória desde as primeiras lembranças até se tornar um completo anarquista na prisão. Como se pode presumir, um rebelde não se faz num ambiente agradável e livre de conflitos, então somos apresentados a um garoto que, quando fazia besteiras, buscava a vassoura para a mãe bater nele, mas alguns anos depois é expulso da escola militar após uma briga que terminou num ferimento grave causado por uma facada. Sua escrita passeia pelo deboche e humor e é razoável, mas o que vale mesmo é a descrição do Japão do início do século XX por alguém que vivenciou tudo aquilo. O cristianismo, por exemplo, que é o retrato da caretice para nós, era para os japoneses uma forma de resistência à sociedade tradicional opressiva - era radical ser católico no Japão! As memórias presentes neste livro vão até sua saída da prisão, período no qual o anarquista (que apresentava gagueira) ficou praticamente mudo e só comia arroz branco.
Osugi Sakae viveu intensamente a rebeldia, foi preso por isso, teve relações amorosas conturbadas e acabou sendo assassinado por militares em circunstâncias que chocaram a própria sociedade repressiva da época - durante um encontro de anarquistas na Europa, é preso, deportado e, chegando ao Japão, é espancado até a morte juntamente com sua mulher e um sobrinho de apenas seis anos, em 1923. Daí em diante, a violência do Estado japonês prosseguiu até que as bombas atômicas fossem lançadas em Hiroshima e Nagasaki.
Editora: Conrad
Páginas: 181
Disponibilidade: normal
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