Bruto, direto, tosco, sem frescura... assim podemos caracterizar o som dos Ramones, e após ler Commando, a Autobiografia de Johnny Ramone, podemos compreender melhor que essa sonoridade nada mais é que o reflexo de seu criador, o lendário guitarrista dos pais fundadores do punk rock. Lançada aqui no Brasil oito anos após a morte de Johnny, essa autobiografia sem concessões não é a história definitiva dos Ramones, mas nos mostra a ótica de quem era o cérebro da banda, o cara que, além da importância nas composições e na criação do espírito Ramone, realmente mandava e decidia questões estratégicas - uma ótica bem peculiar à sua pessoa.
Johnny Ramone era um cara difícil, cheio de escrotices, opiniões babacas, atitudes estúpidas, e talvez por isso nunca tenha sido o membro dos Ramones que eu mais admirava. Enquanto para mim Dee Dee Ramone encarnava a atitude punk por excelência e Joey era muito mais cativante na sua tosquice em volta de uma personalidade inocente, boba, imbecilizada, Johnny Ramone me causava uma certa antipatia por, ao meu ver, não personificar o espírito punk com sua visão muito empresarial e suas posições conservadoras em diversos assuntos. Mas nunca perdi meu respeito por ele, primeiro por ser um membro fundador da minha banda favorita desde que minha voz começou a engrossar, e segundo por ser um cara que colecionou uma legião de detratores, mas ao mesmo tempo um círculo grande de admiradores e amigos no mundo da música - e isso o torna, mesmo que discutamos suas atitudes e valores, uma pessoa bem interessante.
Todas essas características da personalidade de Johnny que eu não simpatizo estão nas páginas do livro, o que prova que um de seus traços que eu valorizo está lá: mesmo que obviamente seja cheia de omissões, é uma autobiografia sincera. Escrito nos últimos momentos de vida de Johnny, quando lutava contra o câncer que o vitimou, Commando é como uma música dos Ramones: rápido, honesto, conciso, e nos faz entender muito sobre os Ramones e algumas de suas canções. Talvez até pelas circunstâncias em que foi escrito, o livro não apresente pudores de seu autor em falar o que pensa sobre ninguém. Entretanto, Johnny não era escritor, e infelizmente no livro ele não consegue fazer como nas músicas da banda, aquela simplicidade arrebatadora que dizia tudo em poucas palavras com três acordes simples ao fundo. É apenas um texto ordinário, retirado de entrevistas cedidas pelo guitarrista e organizado por outras pessoas, mesmo que tenha passado pela edição de gente como John Cafiero e Henry Rollins, mas o livro é tão curtinho e as histórias são tão interessantes que isso não significa muito. A edição brasileira é muito bem cuidada, capa dura, papel de luxo, muitas fotos e vários anexos, como listas de 10 mais de Johnny, cópias de agendas, avaliações dele sobre os discos dos Ramones, até para encher o livro já que o texto é bem pequeno.
Como fã dos Ramones, conheço muita coisa sobre eles, e essa autobiografia elucida muitas passagens da história da banda, mas também contradiz bastante algumas versões. Commando é uma leitura bacana, leve e rápida, que vale uma conferida. Quer você curta ou não, os Ramones são uma das bandas mais importantes da história do rock, e este livro é um dos buracos de fechadura para observar o que passou nesse mundo que tanta gente é apaixonada. Se você se interessa por isso,vale a leitura, mesmo que seja numa cafeteria de livraria no intervalo do almoço.
Editora: Leya
Páginas: 176
Disponibilidade: normal
Avaliação: * * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário