Durante o período da ditadura militar no Brasil, uma quantidade considerável de recursos do país foi utilizada em realizações que muito pouco contribuíram para o avanço na direção de um povo apto para sua autodeterminação, sendo uma delas a ação deliberada no sentido de formar cidadãos sem o menor pensamento crítico em relação ao seu país. Apesar de ter nascido nos últimos anos deste período infame e, portanto, ter passado os primeiros anos da escola já no governo do bigodudo maranhense, lembro bem de ter aprendido que o verde da bandeira representa nossas florestas, o amarelo nossas riquezas e que o sentido de "ordem e progresso" era simplesmente como está no dicionário - resultado dos 20 anos anteriores, tempo em que minha professora aprendeu isso na escola dela.
Com a ditadura chegando ao fim, uma onda de desejos de libertação tomou conta do Brasil, não só com as letras sacanas da Blitz e do Ultraje a Rigor, mas também nas obras dos historiadores da época, como "A formação das Almas", de José Murilo de Carvalho. Este interessante livro aborda o período inicial da república com um pouco menos do glamour contido nos livros didáticos da época da minha mãe, mostrando o real sentido de fatos relacionados ao ato da proclamação.
A questão central abordada no livro é: que país se quis criar com a mudança de regime? E afinal, que país foi criado? Primeiramente, há que se saber quem queria criar este país, e devemos ser apresentados aos personagens que lideraram este processo. O problema é saber quem foram os verdadeiros líderes que promoveram a proclamação da república, já que cada um deles (Deodoro, Constant, Floriano e Bocaiúva) teve seu nome escrito na história de acordo com os interesses da época. Sem que se chegasse a um consenso sobre quem seria o herói da pátria, a grande responsabilidade recaiu sobre Tiradentes, que até então nada tinha a ver com a história em questão, mas sua escolha pegou tão bem que sua imagem foi utilizada (sem sua permissão, diga-se de passagem) tanto por governos militares como por grupos guerrilheiros.
Além da discussão sobre os heróis e formadores de nossa pátria, o livro de José Murilo também discute os símbolos do país, como a bandeira e o hino (de forma muito menos gloriosa do que a história das florestas e das riquezas nas cores do pavilhão), e os que tentaram ser mas não foram - como a tentativa de se identificar a república como uma mulher (que logo foi transformada em prostituta pelos opositores do novo regime). Tudo isso foi fruto de inteligente pesquisa do historiador da UFRJ, com seu característico sarcasmo sutil e muitas figuras de época.
"A Formação das Almas" é um excelente trabalho de nível acadêmico bastante acessível também para leitores de fora da academia, sem chateações eruditas ou linguagem para iniciados no ambiente dos pós-doutores. Essencial para qualquer cidadão que pretende conhecer as origens do país onde vive, compreender as entrelinhas nas palavras da bandeira nacional ou pelo menos saber quem são os senhores representados nas estátuas que dividem lugar com as cotias na Praça da República.
Com a ditadura chegando ao fim, uma onda de desejos de libertação tomou conta do Brasil, não só com as letras sacanas da Blitz e do Ultraje a Rigor, mas também nas obras dos historiadores da época, como "A formação das Almas", de José Murilo de Carvalho. Este interessante livro aborda o período inicial da república com um pouco menos do glamour contido nos livros didáticos da época da minha mãe, mostrando o real sentido de fatos relacionados ao ato da proclamação.
A questão central abordada no livro é: que país se quis criar com a mudança de regime? E afinal, que país foi criado? Primeiramente, há que se saber quem queria criar este país, e devemos ser apresentados aos personagens que lideraram este processo. O problema é saber quem foram os verdadeiros líderes que promoveram a proclamação da república, já que cada um deles (Deodoro, Constant, Floriano e Bocaiúva) teve seu nome escrito na história de acordo com os interesses da época. Sem que se chegasse a um consenso sobre quem seria o herói da pátria, a grande responsabilidade recaiu sobre Tiradentes, que até então nada tinha a ver com a história em questão, mas sua escolha pegou tão bem que sua imagem foi utilizada (sem sua permissão, diga-se de passagem) tanto por governos militares como por grupos guerrilheiros.
Além da discussão sobre os heróis e formadores de nossa pátria, o livro de José Murilo também discute os símbolos do país, como a bandeira e o hino (de forma muito menos gloriosa do que a história das florestas e das riquezas nas cores do pavilhão), e os que tentaram ser mas não foram - como a tentativa de se identificar a república como uma mulher (que logo foi transformada em prostituta pelos opositores do novo regime). Tudo isso foi fruto de inteligente pesquisa do historiador da UFRJ, com seu característico sarcasmo sutil e muitas figuras de época.
"A Formação das Almas" é um excelente trabalho de nível acadêmico bastante acessível também para leitores de fora da academia, sem chateações eruditas ou linguagem para iniciados no ambiente dos pós-doutores. Essencial para qualquer cidadão que pretende conhecer as origens do país onde vive, compreender as entrelinhas nas palavras da bandeira nacional ou pelo menos saber quem são os senhores representados nas estátuas que dividem lugar com as cotias na Praça da República.
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 168
Disponibilidade: esgotado
Avaliação: * * * * *
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